Escrito por: Junia Lara
Atuação social ampla e conscientização política são apontadas como estratégias para dar continuidade a políticas públicas que miram na promoção da igualdade social
Ataques aos trabalhadores e à própria dignidade humana nunca deixaram de existir, pelo menos desde que o sistema capitalista se tornou dominante. A resistência não está apenas em projetos que visam à promoção e consolidação dos direitos trabalhistas e humanos, mas na sustentabilidade e na manutenção desses projetos.
Quem apontou a lógica foi o secretário de economia popular e solidária do Ministério do Trabalho, Gilberto Carvalho, ao ponderar que é preciso “ter clareza” do que é “dar certo”, durante a mesa “Análise de conjuntura e os desafios para a classe trabalhadora”, no segundo dia do Congresso Estadual da CUT-DF, neste sábado (19/8).
Ele lembrou que nos mandatos anteriores do PT houve a inclusão e melhoria de vida, mas não houve estímulo à organização popular. “O que aconteceu foi que quando veio o golpe contra a presidenta Dilma, só nós fomos às ruas e o povo nem sequer entendeu o que estava acontecendo”, disse.
Na análise de Carvalho, a conscientização da população sobre a importância de políticas públicas voltadas à redução das desigualdades socioeconômicas vem também da atuação sindical “raiz”. Ao relembrar a criação do PT e da CUT, ele destacou que, na época, “se vivia o cotidiano”. “A gente não falava de socialismo, mas da exploração. A gente ia morar na periferia, falar com ela; e o movimento sindical e popular deve retomar esse caminho. Não podemos ganhar as eleições e esquecer que o aparelho do Estado é da classe dominante, e eles vão nos botar pra fora sempre que tiverem uma oportunidade”, alertou.
Para a diretora da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e vice-presenta do PT-DF, Rosilene Corrêa, a manutenção e sustentabilidade dos projetos populares passa também pela conscientização da população sobre a importância do voto.
Ela lembrou que, como estratégia, o governador Ibaneis Rocha, desde o primeiro mandato, adotou a fórmula de “minar a luta dos sindicatos, atribuindo a si a ‘concessão’ de benefícios fruto da luta dos trabalhadores”. “Não dá mais para sindicalista achar que não deve fazer a disputa política em sua base. Ou a gente mostra a diferença entre votar na Bia Kicis ou na Érika Kokay e abandonamos o preconceito com os evangélicos, ou permitiremos que aqui se instalem os inimigos da classe trabalhadora”, projetou.
Ao mesmo tempo que estimula ações de base, Gilberto Carvalho aponta um cenário positivo para a realização de mudanças sociais. “Os programas sociais foram todos relançados; o novo PAC brevemente estará nas ruas; os empregos vão retornar e melhorar; o Brasil está se colocando no mundo de maneira totalmente diferente, e além de atrair investimentos para o país, Lula está reforçando o poder das periferias globais e do Sul em relação ao Norte”, afirmou.
Aqui e em toda parte
Durante a análise de conjuntura realizada no CECUT-DF, o secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional, Antônio Lisboa, ponderou que em um mundo globalizado, tudo que acontece em uma parte acaba se refletindo no cotidiano e nas condições de vida e trabalho de toda a sociedade. “A pandemia descortinou uma realidade global que já existia: a concentração de renda, a pobreza e a desigualdade crescentes, tudo resultado do avanço do capital financeiro que controla o mundo”, afirmou. Segundo ele, esse domínio neoliberal do poder leva ao crescimento da extrema direita não só no Brasil, mas em todo mundo.
Lisboa ressaltou que há uma clara mudança de eixo do poder dos Estados Unidos para China, e destacou ainda a guerra da Ucrânia, que expôs a fragilidade dos líderes europeus e estimulou iniciativas como a criação dos BRICs – reunião inicial de Brasil, Rússia, Índia e China –, que está ganhando adesões de vários países que buscam outras formas de atuar no palco global.
Números não mentem
A realidade do mercado de trabalho no DF foi objeto da exposição de Adriana Marcolino, técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no painel realizado no CECUT-DF, neste sábado (19/8).
Com uma população de 2,46 milhões com 14 anos ou mais, o DF possui cerca de 789 mil desocupados. As mulheres ganham 29,85 % menos que os homens, e os negros ganham 52,46% menos que os brancos.
No entendimento dela, os dados técnicos mostram que há muito a caminhar no sentido de organizar a classe que vive do trabalho, em busca de novas pautas, novas formas de organização e mobilização.
CECUT
Os debates do CECUT-DF continuam na tarde deste sábado, com os painéis sobre “Trabalho, Cuidado e Violência: Desafios para as mulheres na sociedade e no mundo do Trabalho” e “ O Poder das Redes Sociais e a Importância da Comunicação para o Mundo do Trabalho”.
Iniciado na sexta (18), o Congresso vai até domingo (20). No encontro, além dos debates, será eleita a nova gestão da Central e aprovadas as estratégias e o Plano de Lutas para o quadriênio 2023-2027.
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