Escrito por: Érica Aragão, Marina Maria e Marina Pilato

Solidariedade na prática | CUT inaugura Ponto de Apoio do Trabalhador no DF

Em evento realizado nesta sexta-feira (08), a Central apresentou o espaço à comunidade. Agora, categorias que desempenham suas atividades nas ruas terão mais conforto em seu dia a dia 

Sindicato dos Bancários de Brasília

A CUT-DF e alguns sindicatos filiados, de forma coletiva e solidária, lançaram nesta sexta-feira (8) o Ponto de Apoio do Trabalhador, na galeria do Hotel Nacional, na região central de Brasília. O espaço – com banheiro, água, tomadas para carregar celular e um sofá para descansar alguns minutos entre uma entrega e outra – pode ser usado por trabalhadoras e trabalhadores de aplicativos, garis, ambulantes, carteiros e outras categorias que têm suas jornadas nas ruas do Distrito Federal.

 “O Ponto de Apoio é uma reivindicação que fazemos com o Estado, que está pautada com o governo do Distrito Federal, a necessidade de ter pontos de apoio para trabalhadoras e trabalhadores e, muito em evidência, os trabalhadores por aplicativo, que representam bem essa vulnerabilidade da exploração do trabalho. Esse ponto de apoio é fruto de discussões que nós já fazemos com os entregadores ao longo dos anos, desde antes da pandemia, resultado de uma pesquisa feita pela OIT e a CUT, realizada aqui em Brasília e em Recife. O questionário da pesquisa foi desenvolvido junto com esses trabalhadores, para sabermos quais eram as suas demandas fundamentais. Uma delas é a necessidade de um espaço para que eles possar fazer uma refeição, carregar seu celular, descansar, coisas básicas. Mas essa necessidade não é só dos entregadores por aplicativo. Nós temos vários outros trabalhadores que atuam diariamente nas ruas e que não têm um espaço que garanta o mínimo de dignidade no trabalho”, afirmou o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

Momento histórico

Para o secretário de Relações Internacionais da CUT, Antônio Lisboa, a inauguração do Ponto de Apoio é uma atividade de extrema importância para a Central. “Esses trabalhadores/as passam o dia inteiro – muitas vezes oito, dez, doze horas na rua, buscando a comida pessoas para as pessoas nos restaurantes e muitas vezes sendo maltratados nos restaurantes. A gente inaugura um novo momento na relação dos trabalhadores organizados do DF, por meio da CUT e dos sindicatos que participam dessa parceria, com essa nova categoria profissional que cresce diariamente, que é precarizada e que precisa do nosso apoio. São jovens em sua imensa maioria, que precisam se organizar para buscar seus direitos e é essa a nossa intenção, criar as condições para que eles possam se organizar e ter melhores condições de trabalho”, afirmou.

Para o presidente Nacional da CUT, Sérgio Nobre, esse gesto, embora simples, é de extrema importância na vida das pessoas. “A classe trabalhadora está sofrendo e está sofrendo muito. Agora tem um setor da classe trabalhadora que sofre mais do que aqueles que ainda sobrevivem com carteira assinada ou servidores públicos concursados, que ainda mantêm um certo padrão de proteção, mas a gente tem a maior parte da classe trabalhadora fora dessa proteção. Nós temos que dar centralidade nesse debate da proteção da classe trabalhadora”, afirmou o líder sindical.

Sérgio também criticou as empresas e o Estado por não terem suprido essa necessidade das categorias. “Se a gente pode fazer isso, imagine o que não podem as empresas, que estão ganhando muito dinheiro com isso e a gente sabe. O que não pode o Estado? Imagina se a gente conseguir fazer disso um grande movimento, porque a CUT está presente em todos os estados da federação e em diversos municípios”, afirmou o presidente da Central.

O diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil, Martin Hahn, cumprimentou a Central pela iniciativa. “Isso é um exemplo típico do que faz um bom sindicato: é uma ação prática para ajudar membros e talvez futuros membros (...) As ações práticas são muito importantes, mas também é muito importante mudar a política, ter clareza de que todos esses contextos precisam de decisões políticas, precisam de abordagem para tentar assegurar que realmente todo mundo tenha aquilo que chamamos de trabalho decente”, afirmou.

No dia a dia

Alessandro Conceição, mais conhecido como Sorriso, é representante da categoria de entregadores por aplicativo no DF. O trabalhador explicou que a realidade de seus colegas é muito precária atualmente e que há muito tempo a categoria luta pela construção de um espaço como o Ponto de Apoio.

“Era pra ser uma responsabilidade das empresas de aplicativo, e até hoje eles não fizeram. A gente conquistou a Lei e ela está em vigor, mas não foi colocada em prática. Muitos trabalhadores vêm pra Brasília pra trabalhar, se deslocam mais de 50, 60 km, dos arredores do Distrito Federal, e não tinham um local para atender às suas necessidades mais básicas”, explicou Sorriso.

Edson Araújo, também entregador por aplicativo, afirmou que a categoria é muito criminalizada.  “Muitas vezes a gente para num estabelecimento que se diz ser parceiro, pede pra usar um banheiro, uma tomada, e a gente é totalmente destratada. Então tendo um ponto desse já é um recurso, que você pode chegar e saber que você pode usar um banheiro, carregar um telefone, é importante, muito importante”, afirmou.

O Ponto de Apoio ao Trabalhador funcionará todos os dias, das 8 às 18h. Além da CUT, apoiam a iniciativa o Sinpro/DF, o Sindicato dos Bancários de Brasília e o Sindilegis.