Escrito por: Marina Maria e Vanessa Galassi

Representação da classe trabalhadora ainda é exceção no Congresso e na CLDF

Análise do perfil dos parlamentares foi parte da 17° Plenária Distrital da CUT-DF

Marcos Paulo

Análise comparativa entre o Congresso Nacional e a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) revela diferenças significativas na representação dos interesses da classe trabalhadora nos dois níveis de Poder. O analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Neuriberg Dias, apresentou um raio-X das duas casas legislativas no segundo dia da 17ª Plenária Distrital da CUT-DF, realizado nesta sexta-feira (29), no Teatro dos Bancários de Brasília.

Segundo o estudo, enquanto o Legislativo federal consolida-se como uma instância corporativa e resistente a pautas progressistas, o distrital exibe um perfil um pouco mais diversificado e com conexão mais próxima às demandas populares, mas ainda insuficiente.

Entre os parlamentares da CLDF, existem sindicalistas, servidores públicos, professores e policiais. A composição acaba trazendo para o plenário experiências que vivenciaram diretamente os desafios do trabalhador comum, o que influencia o debate e a priorização de pautas relacionadas a direitos sociais e serviços públicos.

Já o Congresso Nacional, particularmente a Câmara dos Deputados, opera sob uma lógica marcadamente liberal e com forte influência de setores empresariais. Aprovou, em 2024, apenas 20% das matérias de interesse do governo Lula – que incluem propostas de valorização do trabalho e ampliação de direitos –, contra 83% de proposições de interesse do próprio Legislativo, muitas de caráter corporativo.

“Em 2014, Neuriberg falou que aquele era o Congresso mais reacionário já eleito. Em 2018, foi pior. Em 2022, a composição do Congresso foi comparada à República Velha. Se continuar assim, o próximo Congresso terá perfil equivalente ao Império”, analisou o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

Segundo ele, “é exatamente isso que o bolsonarismo está querendo”. “A agenda do Eduardo Bolsonaro é a da recolonização; não pelos portugueses, mas pelos EUA”, alerta. Para Rodrigues, embora as projeções, “os dados não devem nos desanimar”. “Somos a classe trabalhadora”, lembra.

Diferenças no perfil ideológico

Na CLDF, embora o PL (Partido Liberal) tenha visibilidade maior, há também expressividade nas representações do PT e Psol. Já o Congresso Nacional apresenta uma correlação de forças mais conservadora, com o centro e a direita formando um bloco coeso para frear agendas redistributivas.

De acordo com Neuriberg Dias, a tendência é que as legendas de perfil mais conservador tenham destaque em ambos os parlamentos. No entanto, a base da CLDF ainda mantém maior pluralidade e capacidade de pressionar por agendas trabalhistas.