Escrito por: Marina Maria
Falta de representatividade, novos acordos trabalhistas e fragmentação foram temas abordados na noite desta sexta-feira (27)
Organização sindical, dificuldades de mobilização da classe e a aproximação necessária para driblar esses desafios foram temas expostos pelo pesquisador, economista e político brasileiro Márcio Pochmann durante a 16° Plenária Estatutária na noite desta sexta-feira (27). A mesa de debate, intitulada “Os trabalhadores na regressão neoliberal”, foi coordenada pela secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, Samantha Sousa.
“A gente sabe das dificuldades que temos hoje no mundo do trabalho frente à pandemia, temos vários desafios, lutas e precisamos obter estratégias para que possamos continuar firmes contra a retirada de direitos das trabalhadoras e trabalhadores que a CUT representa”, afirmou Samantha.
Porchmann afirmou que, o momento atual, de grandes mudanças tecnológicas e automação, por vezes, incita uma visão pessimista que prevê um futuro dramático com escassez de empregos, que seriam roubados por robôs, inteligência artificial, dentre outros meios. Apesar disso, o estudioso acredita que o período histórico em que vivemos tem o potencial de provocar profundas transformações sociais alinhadas aos interesses da classe trabalhadora.
“Quando há um rompimento histórico existe a possibilidade de alterar as estruturas da sociedade. É a possibilidade de sonhar com um futuro melhor”, afirmou.
Identidade e pertencimento
Márcio Pochmann destacou ainda a falta de pertencimento das trabalhadoras e trabalhadores que se agravou a partir de uma nova realidade em que os vínculos empregatícios se tornaram fluidos. “Antigamente, quando uma pessoa trabalhava na fábrica se reconhecia como metalúrgico, por exemplo. Tinha seu crachá, seu horário e local de expediente, seu sindicato e se enxergava como parte de uma categoria. Existia, assim, uma cultura operária”, explicou.
De acordo com o economista, com a flexibilização dos empregos, causada, dentre outros fatores, pelo avanço do neoliberalismo, os trabalhadores tiveram que se reinventar. Então muitos exercem várias profissões ao mesmo tempo, outros trabalham de forma autônoma ou de casa, o que prejudica o sentimento de classe.
“A partir disso, as pessoas começaram a buscar esse sentimento em outros lugares. A igreja é um exemplo disso. Se a pessoa chega até lá sem emprego, existe uma rede que pode ajudá-la a encontrar outro. A igreja faz um trabalho social, assistencialista, de doações, de creche, de escuta, sobretudo de prover às pessoas esperança. É claro que as igrejas não têm a solução para o desemprego, mas têm uma palavra de esperança que falta em outros lugares”, afirmou.
Para o economista, os novos caminhos do sindicalismo devem levar em conta a necessidade de escutar os trabalhadores e trabalhadoras, adequando-se aos novos vínculos empregatícios e as necessidades de uma classe que hoje não se enxerga como tal.
A 16° Plenária Estatutária da CUT-DF se encerra hoje (28), com a aprovação das estratégias e plano de lutas da entidade, documento que vai orientar as lutas da maior central sindical do país no próximo período.