Pré-COP 30 Sindical debateu desafios e propostas para transição justa
Evento reuniu lideranças sindicais e movimentos sociais para discutir o papel do trabalho decente, da igualdade de gênero e da solidariedade internacional na agenda climática
Publicado: 10 Outubro, 2025 - 17h34 | Última modificação: 15 Outubro, 2025 - 15h03
Escrito por: Marina Maria
O segundo dia da Pré-COP 30 Sindical, realizado nesta sexta-feira (10), reuniu lideranças sindicais, ativistas e representantes de movimentos sociais para discutir os impactos da crise climática sobre o mundo do trabalho e os caminhos para uma transição justa e sustentável. Os debates abordaram temas como a perspectiva de gênero nas negociações climáticas, o papel do movimento sindical e os desafios do financiamento das ações ambientais.
A ativista Claudia Rubio apresentou um panorama sobre a inserção da igualdade de gênero nas políticas climáticas internacionais. Ela destacou que, desde 2014, com a introdução do tema na COP de Lima, e especialmente após o Acordo de Paris em 2015, houve avanços na participação das mulheres nas negociações. No entanto, alertou que o desafio agora é transformar essa agenda em políticas concretas num cenário de crise global e desigualdade. Rubio também enfatizou as disparidades entre o Norte e o Sul Global, ressaltando que as populações mais vulneráveis – mulheres, pessoas negras e trabalhadores informais – são as mais afetadas pelas mudanças climáticas.
A dirigente sindical Paola Egusguiza, do Peru, defendeu que a transição justa deve priorizar o emprego digno e a redução da informalidade. “Não é possível falar em futuro sustentável sem repensar o modelo econômico global”, afirmou. Já Clemente Ganz, enviado especial da Presidência da COP para os sindicatos, destacou que a COP 30 deve ser um marco de mobilização para a classe trabalhadora, integrando as transformações tecnológicas e demográficas à agenda climática, sem sacrificar direitos trabalhistas.
A solidariedade internacional e a construção de alianças estratégicas entre sindicatos e movimentos sociais também estiveram no centro das discussões. “Vamos pressionar enquanto classe trabalhadora, fortalecendo a solidariedade entre os povos”, reforçou Paola. Anabella Rosemberg, da Climate Action Network-International (CAN), maior rede ambiental do mundo, acrescentou que as organizações sindicais e ambientalistas precisam atuar juntas por uma transição que enfrente as desigualdades sociais e políticas agravadas pela crise ambiental.
O presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, ressaltou que a COP 30 será um momento decisivo para colocar a classe trabalhadora e as questões sociais no centro das discussões climáticas. “Não é possível enfrentar a crise do clima sem enfrentar também a desigualdade social. O movimento sindical precisa ser protagonista na defesa de uma transição que garanta emprego digno, proteção social e justiça ambiental”, afirmou.
O secretário de Relações Internacionais da CUT e vice-presidente da CSI, Antonio Lisboa, reforçou que não é possível discutir trabalho decente sem enfrentar o problema da informalidade, que atinge metade da força de trabalho no Brasil. “Só haverá desenvolvimento do Sul Global com soberania, e os sindicatos têm o desafio de construir alianças cada vez mais fortes com outros setores que lutam por um mundo melhor”, destacou.
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Ao final do encontro, os participantes entregaram ao representante do Ministério das Relações Exteriores, Daniel Leitão um documento que apresenta o Mecanismo de Ação de Belém para uma Transição Justa Global (BAM). A proposta, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (CMNUCC), busca criar um sistema internacional coordenado para transformar os princípios de transição justa em ações concretas. Daniel Leitão é o ponto focal para atendimento a grupos de interesse (constituencies) da UNFCCC.
O BAM propõe três eixos principais: coordenação entre iniciativas já existentes, criação de um centro global de compartilhamento de conhecimento e apoio direto aos países em desenvolvimento, com foco especial no financiamento não baseado em dívidas. A demanda do movimento sindical é que o BAM seja implementado na COP 30 e contará com uma governança participativa que envolva governos e atores sociais. A proposta representa uma oportunidade para alinhar a ação climática à justiça social, promovendo cooperação internacional e desenvolvimento sustentável, especialmente no Sul Global.
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Organização
A atividade foi organizada pela Confederação Sindical das Américas (CSA), a Confederação Sindical Internacional (CSI) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), pilares fundamentais na defesa dos direitos da classe trabalhadora ao redor do mundo. A CSA representa os trabalhadores do continente americano, articulando lutas por democracia, justiça social e trabalho decente. Já a CSI, com presença global, reúne mais de 200 milhões de trabalhadoras e trabalhadores em mais de 160 países, promovendo a solidariedade internacional e a integridade sindical frente aos desafios da globalização. No Brasil, a CUT é a principal central sindical do país, reconhecida por sua coerência, independência e compromisso histórico com a valorização do trabalho, a igualdade e a construção de um mundo mais justo e democrático.
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