Escrito por: Marina Maria
Sem justificativa, o texto propunha abertura das agências aos fins de semana
Mais uma tentativa de retirar direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores bancários foi enfrentada, nesta quarta-feira (06), pelo Sindicato que representa a categoria no DF. O PL 1043/2019, cuja intenção era instituir a abertura das agências bancárias nos fins de semana em instituições públicas e privadas, foi discutido na Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados. Após o debate, o presidente da Comissão decidiu que o Projeto somente voltará a ser debatido e encaminhado à votação após o período eleitoral.
“Para nós, foi um resultado muito positivo. O projeto não tem nenhuma sustentação a não ser aumentar o volume de trabalho de uma categoria que já é tão precarizada, como os bancários. Continuaremos diuturnamente vigilantes e em luta na defesa destas trabalhadoras e trabalhadores”, afirmou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF e secretária de Administração do Sindicato dos Bancários de Brasília.
O Secretário de Relações do Trabalho da CONTRAF-CUT, Jeferson Meira, destacou que o arquivamento foi resultado da luta organizada da classe trabalhadora e das entidades representativas.“Conseguimos mais uma vez desconstruir e barrar, mesmo que momentaneamente, mais um ataque da bancada empresarial apoiadora de Bolsonaro, desta vez contra a categoria bancária. Vamos agora, pressionar os parlamentares envolvidos para enterrarmos de vez esse nefasto e desnecessário projeto. A categoria bancária é uma das que mais sofrem com pressões, assédios de todo tipo e, consequentemente, adoecimento. Não vamos tolerar que deputados que desconhecem totalmente a dinâmica do trabalho bancário queiram, em nome do lobby dos banqueiros , colocar mais essa carga nas costas da categoria”, afirmou.
Insustentável
Embora o diretor da Federação Brasileira de Bancos - Fetraban, Amaury Oliva, tenha tentado afirmar que é uma demanda da sociedade o funcionamento das Instituições aos sábados, classificando como obsoleta a legislação que não permite a abertura das unidades, o próprio argumento utilizado por ele não foi sustentado ao longo da discussão, tendo em vista que a ida aos bancos, na verdade, é que tem se tornado cada vez mais rara, como explicou a presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região - Seeb/SP, Ivone Maia.
“Somos contrários, primeiro porque estamos indo na contramão, hoje a maioria das transações são feitas via pix, de forma eletrônica, apenas 1% das transações são realizadas em agências físicas”, explicou a dirigente sindical.
Ivone afirmou ainda que já existem mecanismos para o atendimento aos fins de semana, negociados com os sindicatos. “Hoje os clientes já são atendidos e não tem um problema trabalhista aí. Vários destes trabalhadores atuam no telemarketing, que é receptivo, com acordos com os sindicatos. Tem acordo que permite trabalhar, mas tem pausa, tem regrado quais são os fins de semana que vão estar com as suas famílias, então hoje os bancos quando tem feiras, eles já comunicam os sindicatos e pagam horas extras para esses trabalhadores”, explicou.
Muitas das falas na Comissão frisaram o adoecimento físico e psíquico que os bancários já enfrentam atualmente, tanto devido à carga horária, quanto a outros fatores, como os movimentos repetitivos, o assédio moral e sexual, a cobrança pelo cumprimento de metas abusivas e outros elementos, que poderiam ser potencializados com a abertura de agências nos fins de semana.
De acordo com levantamento feito pelo Seeb/SP, houve um aumento surpreendente no adoecimento dos bancários: 77% dos que responderam à pesquisa disseram sentir muita fadiga e preocupação constante com a questão do emprego e 35% deles afirmaram utilizar medicamentos controlados.