Escrito por: Marina Maria
Jovens são maioria nos índices de desemprego e precarização
A juventude trabalhadora foi um dos setores massacrados nos últimos anos. Isso porque, depois do golpe de 2016, os constantes ataques à educação, aos investimentos no setor público, à previdência social e às perspectivas de futuro atingiram em cheio quem precisou de incentivo para ingressar nas universidades, concluir os estudos ou entrar no mercado de trabalho com direitos e dignidade. O tema foi tratado no primeiro dia do CECUT-DF, nesta sexta-feira (18/8).
A uberização também atingiu com mais força os mais jovens. Segundo a pesquisa “Mobilidade urbana e logística de entregas: um panorama sobre o trabalho de motoristas e entregadores com aplicativos”, do Cebrap, 56% dos entregadores por aplicativo têm entre 30 e 49 anos, e 40% desses trabalhadores ainda não completaram 30 anos.
Apesar dos dados preocupantes, há disposição de luta e perspectiva de dias melhores, como pontua a secretária de Juventude da CUT-DF, Yslene Rayanne. “A CUT não larga mão da juventude, que é o futuro. É preciso ganhar a conscientização de classe dessa juventude, que muitas vezes imagina que seus direitos caíram do céu e não percebem que os mesmos foram conquistados com muita luta. Felizmente, agora nós temos perspectiva de futuro e vamos conquistar ainda mais direitos e abrir espaço no mercado de trabalho para os mais jovens”, afirmou.
A secretária nacional de Juventude da CUT Nacional, Cristiana Paiva, relatou a participação em outros CECUTs no país e afirmou que, apesar da conjuntura desafiadora, “a gente tem vivenciado momentos de muita alegria, pois há uma diferença gritante em relação aos governos passados”. A dirigente sindical afirmou ainda que a Central está, pela primeira vez, em articulação e contato direto com a pasta de Juventude no governo federal e no Ministério do Trabalho.
Além disso, Cristiana informou que no Congresso Nacional da CUT, em outubro deste ano, haverá, também de forma inédita, a 1° Plenária Nacional de Juventude da CUT, fruto da ampliação da participação desse segmento na Central. “Falamos que a juventude é o futuro, mas não podemos esquecer que ela é também muito presente na CUT e no movimento sindical como um todo”, afirmou.
Sobre os desafios enfrentados, Cristiana explicou que a dificuldade encontrada por sindicatos em filiar jovens está na falta de pertencimento desse grupo às entidades sindicais, apontando a necessidade de tornar a prática sindical mais pertencente.
Comunicação e conteúdo, eixos indissociáveis na luta de classes
Para Paulo Galo, mais conhecido como “Galo de Luta”, expoente ativista pelos direitos dos trabalhadores por aplicativo, uma forma de tornar o movimento sindical mais interessante para a juventude trabalhadora é fortalecer a identidade de classe.
“Se tem uma coisa que é importante para as pessoas é a identidade. O identitarismo é um problema realmente, mas a gente não pode esquecer que trabalhador também é uma identidade. O capitalismo fragmenta as pessoas, divide as pessoas e coloca uma contra a outra. Precisamos mostrar que o negro é trabalhador, o LGBT é trabalhador, o funkeiro é trabalhador, a maioria das pessoas é classe trabalhadora, e o resto – uma pequena parte – é burguês. Porque não há como fazer uma greve de empreendedores. Temos que resgatar a imagem do trabalhador como uma referência boa”, pontuou Galo.
Doutora em Educação pela UNIRIO e ex-secretária nacional de Juventude, Severine Macedo expôs a precarização dos jovens no mercado de trabalho. Segundo ela, mesmo nos momentos em que o Brasil esteve próximo ao pleno emprego, os jovens negros e periféricos ainda não estavam inclusos nessa estatística.
“O Brasil ocupa o segundo lugar em desemprego dos jovens. Se a gente vai ver quem são as pessoas que não estudam e nem trabalham, vamos ver que a maioria se trata jovens mulheres periféricas que têm filhos ou que têm responsabilidades domésticas de cuidados com outros. Ainda é possível observar que muitos têm que escolher entre sobreviver e terminar o ensino médio, e não termina porque não pode ficar sem trabalhar”, afirmou Severine.
A acadêmica explicou que é necessário “juntar o método com o conteúdo”. “Não é só discutir o trabalho separado da vida do jovem, mas falar sobre juventude é falar sobre política pública, construção de autonomia, mobilidade; é pensar no direito à vida. Não dá para pautar direitos da juventude sem falar sobre o extermínio. A gente quer a juventude negra viva e com direitos”.
Secretário de Relações Internacionais da CUT, Antonio Lisboa lembrou que o número de jovens desempregados é três vezes maior do que o número de homens adultos na mesma situação.
“Essa é uma realidade que atinge em grande parte a juventude de periferia. Como organizar esses trabalhadores? Se a gente não mudar a lógica, a velocidade só vai aumentar a diferença. Nós olhamos com a cabeça do passado. A gente precisa enfrentar essas questões e tem que ter humildade para ouvir o que as pessoas precisam”, afirmou Lisboa.
De acordo com o sindicalista, não existe uma nova classe trabalhadora, mas existe um novo modelo de exploração do capitalismo. “Tem que ter comunicação e tem que ter conteúdo”, pontuou.
Gerar emprego é defender a juventude
Marilane Teixeira, doutora em ciências econômicas pela Unicamp, lembrou que a luta por geração de emprego precisa ser uma luta encampada pelo movimento sindical brasileiro. “Convivemos com 26 milhões de pessoas que trabalham por conta própria no Brasil, em ocupações de vulnerabilidade e precariedade. Essa questão teve um crescimento muito grande na última década, em que prevaleceram trabalhos sem direitos e sem registro”, afirmou.
Segundo Marilane, atualmente, 41% das pessoas ocupadas estão na informalidade, “sem absolutamente nenhuma perspectiva de futuro”. “O debate dos trabalhadores por aplicativos tem centralidade para nós, porque ele vai delimitar qual será o futuro e a estratégia do movimento sindical no próximo período.”
O CECUT
O Congresso Estadual da CUT-DF, iniciado nesta sexta (18), vai até domingo (20). No encontro, além dos debates, será eleita a nova gestão da Central e aprovadas as estratégias e o Plano de Lutas para o quadriênio 2023-2027.
Ainda nesta sexta, será realizado o lançamento da revista de 40 anos da CUT e a abertura política do CECUT-DF.
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