Há 30 anos, rodoviários paravam e aceleravam o fim da ditadura
Republicamos a matéria que relembrou a greve histórica dos rodoviários de Brasília, iniciada em 1º de abril de 1985, a primeira paralisação da Nova República. A reportagem foi divulgada em nosso site exatamente há um ano. Confira: Há 29 anos, rodoviários paravam e aceleravam o fim da ditadura Neste 1º de abril se comemoram os 30 […]
Publicado: 01 Abril, 2015 - 12h47
Escrito por: Jean Maciel
Republicamos a matéria que relembrou a greve histórica dos rodoviários de Brasília, iniciada em 1º de abril de 1985, a primeira paralisação da Nova República. A reportagem foi divulgada em nosso site exatamente há um ano. Confira:
Há 29 anos, rodoviários paravam e aceleravam o fim da ditadura
Neste 1º de abril se comemoram os 30 anos da histórica greve dos trabalhadores rodoviários de Brasília. Segundo Pedro Celso (foto), um dos principais líderes daquele movimento de 1985, que durou três dias e parou o transporte público de Brasília, foi a primeira greve da Nova República e significou o momento da verdade e de afirmação da categoria, com reflexos importantes no Distrito Federal e no país.
“A greve aconteceu num momento importante e delicado do país. Tancredo agonizava no leito hospitalar, os militares ameaçavam não fazer a transição para os civis e o povo estava cansado de 21 anos de humilhação e desrespeito por parte da ditadura. E foi uma greve exitosa, que ajudou a derrubar o governador nomeado pelo regime e o secretário de segurança da época e a direção da estatal de transportes foi obrigada a atender nossas reivindicações”, lembrou Pedro Celso.
Para o secretário nacional de Organização da CUT, Jacy Afonso, a greve dos rodoviários foi um marco e representou simbolicamente a queda da ditadura. Jovem militante na época, Jacy explica que após a criação da CUT em Brasília, em 1984, foram organizados os trabalhadores de oposição em várias categorias. Surgiu forte na época o Movimento de Base dos Rodoviários, liderado por Pedro Celso, Maia, Capelinha e Geraldo. A oposição apareceu inicialmente na TCB, se estendo paulatinamente nas demais empresas de transportes coletivos.
Tancredo Neves havia escolhido Carlos Murilo para substituir o governador nomeado e militar, José Ornelas. Recuou no último momento frustrando a população. “É neste contexto que o movimento decidiu convocar uma greve, passando ao largo da direção pelega encastelada no Sindicato dos Rodoviários. Era 1º de abril, uma segunda-feira. Entre as reivindicações, por exemplo, estavam a instituição de comissões de empresa e o fim do intervalo de 5 horas no almoço, que mantinha o trabalhador a serviço da empresa por mais de 13 horas”, conta Jacy.
Foram três dias com ônibus parados na Rodoviária e muita efervescência sindical e popular. Até uma rede de rádio-amadores foi criada pelo rodoviário Calaça, para garantir a comunicação dos rodoviários distribuídos em várias garagens. O movimento e a CUT se organizavam em uma sala no Conic cedida, solidariamente, por uma entidade de aposentados comanda pelo ex-presidente do Sindicato dos Bancários, Adelino Cassis. Ao final, após as conquistas dos rodoviários, cai o governador e é nomeado para seu lugar Ronaldo Costa Couto.
Esse movimento foi importante, pois a chapa de oposição encabeçada por Pedro Celso ganhou as eleições com 80% dos votos, vencendo outras cinco chapas e afastando do sindicato a direção pelega. Além disso, fez com que o Sindicato dos Rodoviários, que tinha sede no Setor de Indústrias, mudasse para o Conic e levou a CUT a criar uma estrutura para atender o crescente movimento sindical. Desse movimento, surgiram novas lideranças como o atual tesoureiro do Sindicato dos Rodoviários, João Osório, que comandou inclusive a CUT Brasília. “A greve de 1985 inaugura um novo tempo para o Sindicato e para a categoria. Até então era uma entidade dirigida por interventores nomeados pelo governo. A greve é emblemática pois representa o reinício do sindicato de luta. No campo político, a greve marca também o movimento contra a ditadura militar, pela redemocratização do país, pela liberdade de os trabalhadores decidirem seus destinos”, avalia João Osório.
“A greve dos rodoviários de 1985 é histórica porque serviu de exemplo para todas as categorias de trabalhadores de Brasília. Mostrou que era necessária organização para conquistar direitos, retomar os sindicatos e lutar pela democratização do país”, afirma Marcos Junior, diretor dos Rodoviários e secretário de Comunicação da CUT Brasília.
Secretaria de Comunicação da CUT Brasília