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Falar da pauta das mulheres é tarefa dos sindicatos

Debater as dificuldades que as mulheres enfrentam dentro e fora do ambiente laboral é fundamental para construir uma sociedade mais justa e igualitária

Publicado: 19 Agosto, 2023 - 19h48 | Última modificação: 19 Agosto, 2023 - 19h57

Escrito por: Marina Maria | Editado por: Vanessa Galassi

Nívea Magno
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Cada vez mais presentes no movimento sindical, as mulheres vêm garantindo avanços nos espaços de poder, mas não sem enfrentar situações de assédio moral e sexual, silenciamentos, descredibilização.

Segundo a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães, um dos caminhos irrenunciáveis para transformar esse cenário é tornar a pauta dos direitos das mulheres intrínseca às ações sindicais. “Pensar em um mundo sem opressão é uma tarefa de todos. A gente não tem hierarquização de pauta quando a gente quer transformar a sociedade, e falar sobre violência contra as mulheres é sim uma tarefa do sindicato”, pontuou durante a mesa “Trabalho, cuidado e violência: desafios para as mulheres na sociedade e no mundo do trabalho”, realizada neste sábado (19/8), como parte dos debates do Congresso Estadual da CUT-DF.

A sindicalista reforçou que a sociedade é constituída pelo patriarcalismo, pelo racismo, pela LGBTfobia e outras opressões que se retroalimentam. “Não se transforma a sociedade sem mudar a vida das mulheres, e não se muda a vida das mulheres sem transformar a sociedade”, afirmou.

Cores e classes da violência
Além de enfrentarem vários tipos de preconceito, as empregadas domésticas estão mais expostas a abusos decorrentes da falta de fiscalização e de um ambiente controlado para desempenharem seu trabalho.

Luíza Batista, coordenadora-geral da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), sabe na pele quais são as principais vulnerabilidades dessa categoria. “Comecei a trabalhar aos 9 anos de idade, e até surrada eu fui. Meu pai era agricultor. Quando ele faleceu, em 1960, não tinha direito a nada. Minha mãe ficou doente com tuberculose e não tinha pensão. O dono do engenho que a gente morava mandou-nos embora. Moramos na rua por duas semanas, até que uma mãe de santo nos acolheu. Quando apanhei no trabalho, minha mãe se posicionou e me tirou de lá, mas naquela época a gente não discutia. Hoje, temos a possibilidade de falar sobre a violência contra as mulheres em um congresso como esse”, relatou.

A sindicalista afirmou que aqui no DF, mesmo sendo uma das unidades da federação onde a população tem maior poder aquisitivo, apenas 2% das trabalhadoras domésticas estão formalizadas.

Luíza Batista também pontuou a luta que a categoria tem que travar luta contra os aplicativos que oferecem serviços domésticos, e que tornam ainda mais precárias as relações de trabalho das trabalhadoras domésticas. Os aplicativos que contratam as diárias de faxina ficam, em média, com 60% do valor pago pelo serviço.

No Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2018, havia 6,2 milhões de empregadas domésticas: 4,5 milhões não tinham carteira assinada. Ainda de acordo com a Pesquisa, 92,6% das pessoas que desempenhavam esse trabalho eram mulheres, e 62,5% negras. Em relação à idade, o maior percentual concentrava-se dos 30 aos 44 anos. Entretanto, a próxima faixa etária com mais concentração de trabalhadoras domésticas e a dos 14 aos 17 anos (38,2%).

Democratizar o cuidado é promover a igualdade
Atual secretária nacional de Cuidados e Família do ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Laís Abramo afirma que é tarefa urgente para o país criar uma Política Nacional de Cuidados que promova direitos e dignidade para as trabalhadoras e trabalhadores da área. Um dos objetivos é liberar o tempo das mulheres, que são as que mais sofrem com a sobrecarga do trabalho doméstico e cuidado com crianças e idosos, a maior parte das vezes sem nenhuma remuneração.

“De todas as pessoas que hoje exercem profissões do cuidado, 45% são as mulheres negras, que também estão nos empregos mais precarizados. As mulheres ainda gastam mais que o dobro do tempo por semana que os homens com tarefas relativas aos cuidados. Isso gera uma pobreza de tempo. Essa alta carga de trabalho doméstico não remunerado faz com que as mulheres tenham que enfrentar fortes barreiras para se dedicar a outras tarefas. 30% das mulheres que estão fora do mercado de trabalho nem procuram emprego porque têm essa ocupação. Quando falamos sobre as mães, quanto menor a criança, mais dificuldades as mulheres têm. A política de creches existe, mas é muito inferior do que a demanda”, explicou Laís Abramo, que é doutora em sociologia, especialista em temas relativos à desigualdade, políticas sociais e o mundo do trabalho.

CECUT
“Trabalho, cuidado e violência: desafios para as mulheres na sociedade e no mundo do trabalho” foi a penúltima mesa do segundo dia do Congresso Estadual da CUT-DF, que segue até este domingo (20), no Teatro dos Bancários.

Além dos debates, o CECUT-DF elegerá a nova gestão da Central e aprovadas as estratégias e o Plano de Lutas para o quadriênio 2023-2027.