Distrito Federal tem 32% da população em insegurança alimentar grave ou moderada
Distrito Federal tem 32% da população em insegurança alimentar grave ou moderada
Publicado: 16 Setembro, 2022 - 10h27 | Última modificação: 16 Setembro, 2022 - 10h29
Escrito por: Brasil de Fato DF
Novas informações do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (Vigisan), divulgado essa semana, mostra o quadro da fome nos estados brasileiros, incluindo o Distrito Federal.
Os dados são um desdobramento da pesquisa realizada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) entre novembro de 2021 e abril de 2022. As análises abrangem uma amostra de 12.745 domicílios localizados em áreas urbanas e rurais.
O flagelo da fome, que atinge atualmente mais de 30 milhões de pessoas no país, também é expressivo quando se olha para a capital da República. No DF, cerca de 13,1% da população está em situação de grave insegurança alimentar, ou seja, passam fome. Isso se dá por falta de dinheiro para comprar alimentos ou preparar refeições, fazendo uma única refeição ou ficando o dia inteiro sem comer.
Considerando uma população atual estimada em pouco mais de 3 milhões de habitantes, os famintos do DF somam cerca de 394 mil pessoas. Trata-se do segundo pior resultado entre os estados do Centro-Oeste. Apenas no Mato Grosso, onde 17,7% da população passa fome, a situação é pior do que no DF.
Além disso, cerca 19,1% da população que vive no DF sofre com insegurança alimentar moderada. Esse quadro é caracterizado pela Rede PENSSAN como aquele em que há uma redução quantitativa de alimentos ou ruptura nos padrões de alimentação resultante de falta de alimentos.
Quando se soma a população que passa fome com a que vive numa situação de insegurança alimentar moderada, o percentual vai a 32,2%, o que dá aproximadamente 969,5 mil pessoas, ou seja, mais de um terço da população da capital. Nesse quesito, o DF tem a pior situação entre todas as unidades da Federação do Centro-Oeste.
"A situação de insegurança alimentar está totalmente relacionada à renda no Brasil. Não é falta de disponibilidade de comida, é que essas pessoas não têm dinheiro pra comprar", destaca Marília Leão, pesquisadora do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição da Universidade de Brasília (UnB).
Um dos dados do inquérito que ela chama atenção é o número de famílias que declara, na pesquisa, que estão endividadas, quantitativo que chega a 55% no DF.
"Agora, para chegar numa situação de não ter o que comer, pular refeições ou reduzir a quantidade de comida, é porque essas pessoas já passaram por muitas outras carências. Ou seja, estamos vendo apenas a dolorosa ponta de iceberg, porque imagine o grau de carências e desestruturação moral e material que não foi gerada nessa família que passa fome", acrescenta Leão.
A fome e a infância
A insegurança alimentar apresenta, ainda, outra face cruel no Brasil e também em Brasília. Nas casas em que há crianças com menos de 10 anos, a fome é maior.
Em domicílios com moradores nesta faixa de idade, a proporção de insegurança alimentar moderada ou grave está acima de 40% em todos os estados da região Norte e a sete dos nove estados do Nordeste. No Distrito Federal, essa proporção é de 42,9% dos domicílios pesquisados.
A pesquisa da Rede PENSSAN foi apresentada ao público em junho, com a divulgação de dados nacionais e das macrorregiões do Brasil. Naquele momento, foi revelado que 33,1 milhões de brasileiros não têm o que comer, e apenas 4 entre 10 famílias conseguem acesso pleno a alimentos. Em números absolutos, são 125,2 milhões em insegurança alimentar - leve, moderada ou grave.
Para enfrentar o problema, Marília Leão aponta a necessidade de medidas emergenciais, como o provimento de alimentação para quem precisa, por meio de uma rede de entidades públicas e privadas. Além disso, de forma mais estrutural, é preciso reestruturar políticas públicas que já existem, como saúde, educação e alimentação escolar, além, é claro, do emprego, de políticas que promovam o pleno emprego no país.