Dirigente CUTista será a primeira mulher a presidir o Diap
Em meio a uma série de ataques aos direitos das trabalhadoras e trabalhadores, Maria das Graças Costa assume o cargo máximo do Departamento
Publicado: 01 Dezembro, 2021 - 17h14 | Última modificação: 02 Dezembro, 2021 - 13h55
Escrito por: Marina Maria
Nesta quarta-feira (01), a nova diretoria do Departamento Interssindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) será empossada. A gestão, que estará à frente da entidade pelos próximos três anos, terá pela primeira vez uma mulher no cargo de presidência, que é a secretária Nacional de Organização e Política Sindical da CUT, Maria das Graças Costas.
O secretário de Formação da CUT-DF, Rodrigo Britto, e a dirigente do Sinpro/DF e da CNTE, Rosilene Corrêa, também estarão na diretoria do Departamento, que há 38 anos defende os interesses da classe trabalhadora no Congresso Nacional.
Para Rodrigo Britto, a CUT, como principal instrumento de luta da classe trabalhadora, possui uma necessidade cada vez maior de acompanhar os Projetos de Lei, Propostas de Emenda à Constituição, Emendas Constitucionais e demais movimentos que acontecem na Câmara e no Senado, especialmente em tempos de duros ataques às categorias e à classe em geral. “Com o aumento das bancadas empresariais e conservadoras nas casas legislativas, é necessário cada vez mais que a Central, as Federações e Sindicatos estejam atuando dentro desses espaços para garantir a manutenção dos direitos e barrar as constantes tentativas de retrocesso”, pontua o sindicalista.
Atualmente o DIAP conta com cerca de 900 entidades filiadas, entre Centrais Sindicais, Confederações, Federações, Sindicatos e Associações.
Confira abaixo a entrevista completa com Maria das Graças Costa, dirigente CUTista que será a primeira mulher a presidir o DIAP.
1) Como você encara essa nova responsabilidade, de estar a frente de um instrumento de luta tão importante quanto o DIAP?
Ali a gente tem a oportunidade de fiscalizar e avaliar os parlamentares, mostrar o perfil deles para a população ter a oportunidade de decidir qual o melhor caminho a seguir, pra onde levar seu voto. É um instrumento de pesquisas profundas sobre doação de campanha, quem financiou, a que grupo pertence, quais são as origens desses parlamentares. O DIAP também nos fornece um prognóstico de como vai ser o próximo congresso a partir das candidaturas colocadas. Nesse congresso por exemplo colocamos o perfil dos parlamentares como sendo um dos mais atrasados da história do parlamento brasileiro, com uma concentração muito forte de congressistas do centro para a direita, que aumentou muito, assim como a representação dos grandes empresários e das grandes empresas dentro do congresso nacional.
O meu sentimento hoje é de muita gratidão e muito orgulho de poder assumir a presidência dessa entidade tão importante para a classe trabalhadora do nosso país. Pelo DIAP, passa a construção da estratégia da classe para combate a todos os ataques que as trabalhadoras e trabalhadores sofrem através dos Projetos de Lei e das PEC’s. O departamento também nos auxilia a construir um pensamento mais positivo de apresentar propostas para que a gente saia da crise que estamos.
2) Para você, qual é a importância de ser a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da entidade?
Fui a primeira mulher a assumir a vice-presidência três anos atrás e agora a presidência. É uma tarefa muito complexa mas me sinto feliz por ter a oportunidade de representar o sentimento de que a mulher é capaz de assumir os cargos de direção, que é possível estar no topo da pirâmide, coordenando, trazendo essa postura que nós temos de muita solidariedade e acolhimento mas também a bravura que está marcada em nossa história, nas resistências que as mulheres de cada tempo tiveram, assumiram e enfrentaram. É em nome desse sentimento que a gente coloca a nossa bravura oferecendo flores, impõe a nossa resistência muitas vezes com choro, mas trazendo o nascimento, essa sensação de que é possível a gente renascer. É importante trazer esse espírito da maternidade para dentro das instituições, da construção, da resistência e salvar o nosso país que está em uma situação de extrema divisão, de ódio, de fascismo, de homofobia. Todas essas energias carregamos e vamos transformar através da gratidão, da humildade, do reconhecimento daqueles que já fizeram o trabalho até aqui. Tudo isso olhando para o horizonte. Olhando para aquilo que é possível, nós enquanto mulher, militante, sindicalista, produzir para melhorar, fortalecer o movimento, fortalecer o DIAP, a luta de classes no nosso país.
3) Como a sua experiência enquanto dirigente sindical pode contribuir para o departamento?
Eu comecei a minha trajetória na associação dos professores municipais do interior do Ceará, no finalzinho da década de 1980. Depois, transformamos a nossa associação em sindicato dos servidores, é uma experiência ímpar que vivemos como a gente se desagarra do que é de categoria para passar enquanto classe. Entendemos que se a gente se organizasse enquanto servidores municipais, nossas chances de sobrevivência, combate aos ataques e avanço com a conquista de direitos aumentariam. Passamos de 22 núcleos para 155 sindicatos de servidores municipais no estado do Ceará, e é assim que a gente tem trabalhado. Construímos a nossa Federação, a nossa Confederação, e sempre estivemos nessa luta mais ampla, encampando tanto a luta da categoria, quanto as lutas maiores, até a nível mundial, por meio de várias instâncias. Enquanto servidora municipal acho que está na hora do DIAP avançar para as assembleias legislativas e Câmaras Municipais. Fazer essa pressão que estamos fazendo a nível nacional nos municípios. Também acho que podemos avançar no processo de formação de militância para atuar nesse cenário de guerra, em que temos que preparar nossa base com formação política, estratégia, olhar no futuro para que a gente consiga combater o fascismo e o bolsonarismo, que trás no bojo de sua formação o odio à classe trabalhadora, às mulheres, negros e negras, LGBTQIA+, dentre outros segmentos. Temos movimentos muito aguerridos, mas na hora de votar as pessoas continuam elegendo os empresários. Nós temos como contribuir para a mudança desse cenário a partir da transparência. O ano de 2022 pode trazer uma vitória para a gente com a eleição do companheiro Lula, mas não basta tirar o Bolsonaro, estamos falando de enfrentar o bolsonarismo e essa é uma tarefa complexa, que exige muito trabalho.
4) Nos dias atuais, como você percebe a importância do DIAP nas lutas da classe trabalhadora?
O DIAP fornece as ferramentas para o movimento sindical, trás para o movimento sindical quais são as pautas que estão em tramitação, como devemos nos posicionar, os caminhos que a gente pode seguir nos corredores do congresso, quais lideranças podemos abordar para influenciar na votação final mas também propostas, além da avaliação, propor uma agenda positiva, quais caminhos podemos trilhar para fazer esse confronto da pauta positiva da classe trabalhadora diante da pauta do empresariado brasileiro que atua de forma muito forte dentro do congresso nacional. Eu entendo que toda essa movimentação, essa construção e assessoria, contribui demais para que a classe trabalhadora através de suas entidades representativas, consiga se impor, enfrentar, discutir, negociar, suspender, barrar, a produção que tem no DIAP dá oportunidade das entidades fazerem seus planos de ação, estratégias, lutar, tanto enquanto categoria, nos projetos específicos, quanto os projetos mais abrangentes que atingem a toda a classe trabalhadora. Eu compreendo que o DIAP é um elemento importantíssimo nessa conjuntura em que estamos, e sempre temos como trabalhar mais e melhor.