Escrito por: Marina Maria

Sindicalistas debatem direitos das pessoas idosas, aposentadoria e envelhecimento

Encontro aconteceu no Sinpro-DF e reuniu dezenas de trabalhadores de diversas categorias

Leandro Gomes

Aposentar-se dignamente e poder colher os frutos de uma vida inteira dedicada ao trabalho é um sonho para milhares de brasileiros. Apesar de se tratar de um direito, a aposentadoria acabou se distanciando da realidade próxima de grande parte das trabalhadoras e dos trabalhadores, principalmente após a última reforma da previdência.

Com o objetivo de traçar estratégias para garantir direitos a essa parcela da população, a CUT-DF realizou o 1° Encontro Distrital do Coletivo de Pessoas Aposentadas, Pensionistas e Idosas, nessa quinta-feira (12), no auditório do Sinpro-DF.

A ocasião reuniu dezenas de militantes, dirigentes e especialistas em temas relevantes ao segmento e reforçou a importância da presença dos sindicatos e da Central nos debates, além das lutas dessa parcela da classe trabalhadora.

“O encontro faz parte de toda uma agenda que está sendo construída nacionalmente. Aqui no DF, sempre realizamos uma atividade em alusão ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro. Este ano resolvemos, para o fortalecimento do coletivo,  debater os direitos humanos no envelhecer digno, saudável e participativo”, explicou o secretário de Políticas Sociais e Direitos Humanos da CUT-DF, Cleber Soares.

Para o secretário nacional de Aposentados, Pensionistas e Idosos da CUT, Ari Aloraldo, um grande desafio é que essa agenda não seja uma pauta secundária dentro dos sindicatos e organizações, masum debate permanente.

“A gente precisa também trabalhar com uma pauta que não seja meramente negativa, mas mesclar com as coisas boas que a idade nos traz, debater os problemas, mas também apontar soluções, caminhos e o que de belo nós podemos fazer”, afirmou Ari.

Recortes do envelhecimento

O deputado distrital Chico Vigilante, que também é procurador especial da Pessoa Idosa da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), esteve presente na atividade e levou importantes apontamentos aos participantes. Natural de Ceilândia, Chico destacou a diferença do processo de envelhecimento nas diferentes regiões da capital federal e como o crescimento da população idosa é um fenômeno recente em nosso país.

 “O Brasil não está preparado para lidar com a quantidade de idosos. Se vocês querem perceber isso, é só verificar as calçadas, por exemplo. Onde eu moro, no PSUL, não tem calçada pra idoso andar. A gente precisa lutar efetivamente para que a cidade se prepare para os idosos. A gente precisa efetivamente fazer com que os idosos não se sintam excluídos da sociedade, mas com que eles participem ativamente da sociedade”, afirmou o deputado distrital. 

Assim como os governos não pensaram profundamente no envelhecimento da população, o movimento sindical no passado também não trouxe o tema ao centro do debate, lembrou o parlamentar.

“Quando a gente fundou a CUT, em 1983, eu tinha 29 anos de idade. Parecia que a gente não ia ficar idoso nunca. Os sindicatos não tinham essa secretaria. Por isso, é muito importante que agora vocês estejam pensando nisso”, pontuou Chico Vigilante.

A fala do deputado tem muito embasamento histórico. Na década de 1980, a expectativa de vida média do brasileiro era de 62 anos, abaixo dos 65 anos, idade em que as pessoas se tornam idosas. Em 2022, a expectativa de vida subiu para 75 anos.

Lídia Santos, coordenadora-geral em políticas do envelhecimento saudável do Governo Federal e especialista em envelhecimento humano, também reafirmou a importância de destacar os recortes territoriais, de raça e de gênero nessa pauta.

“Envelhecer na Asa Sul é diferente de envelhecer na Ceilândia, como também é diferente envelhecer sendo uma mulher negra e sendo uma mulher branca. É diferente envelhecer quando você trabalha de carteira assinada e quando é autônomo. Precisamos pensar as várias formas de envelhecimento”, afirmou.

Ela afirmou ainda que muitas pessoas idosas acabam ficando muito tempo presas em casa porque as ruas não oferecem condições adequadas para que elas circulem, o que acaba isolando ainda mais essa parcela da população.

A deputada federal Erika Kokay reafirmou os diferentes recortes do envelhecimento e sugeriu que o movimento sindical leve as análises e reivindicações construídas no encontro para o Ministério dos Direitos Humanos.

“Queremos envelhecer com dignidade, felicidade, a sociedade tem muito que aprender conosco. Aqui tem muita luta e capacidade de repassar conhecimento construir sociedade mais justa e igualitária”, disse Kokay.

Formação

O evento teve exposições sobre previdência, ocupação das pessoas idosas, informalidade e outros temas, como parte da formação dos participantes. O período da tarde contou com as presenças de Mariel Angeli, economista do Dieese, Vicente Valheiros, professor da UnB e pesquisador do envelhecimento, e de Ricardo Berzoin, ministro da Previdência no governo Dilma.

Os especialistas citados apresentaram dados sobre aposentadoria, direitos das pessoas idosas, reformas previdenciárias dos últimos anos e reforçaram a necessidade de o movimento sindical ser protagonista nos debates que inevitavelmente vão acontecer pelas mudanças em nossa sociedade.

“Existe uma realidade hoje em que um grande número de aposentados está no mundo do trabalho, a juventude e boa parcela dos trabalhadores ocupados estão na informalidade e em muitas famílias a maior renda vem de pessoas com mais de 60 anos. Numa situação tão complexa, é cada vez mais importante debater sobre os direitos das pessoas idosas e a CUT traz para dentro de si esse debate”, afirmou o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

O evento foi transmitido ao vivo pelo youtube da CUT-DF e pode ser assistido integralmente nos links:

https://www.youtube.com/watch?v=qa6XDZyjbT8 (manhã)

https://www.youtube.com/watch?v=dctoML7sv3M (tarde)

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