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Desorganização, falta de monitoramento e divulgação precária marcam vacinação no DF

Quem quiser se vacinar, deve estar disposto a enfrentar filas quilométricas e passar, pelo menos, 3 horas esperando. Isso porque não há qualquer organização por parte do governo Ibaneis

Publicado: 13 Agosto, 2021 - 15h13 | Última modificação: 13 Agosto, 2021 - 15h36

Escrito por: Leandro Gomes

Agência Brasil
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O Distrito Federal alcançou a marca de 457 mil casos de Covid-19 e quase 10 mil mortes pelo vírus. A capital federal registrou também 72 casos da variante Delta ─ uma das mais transmissíveis ─, colocando o DF como região com maior taxa proporcional de infecções no país. Paralelo a esse cenário, a vacinação contra a Covid-19 ─ fundamental para salvar vidas ─ é marcada por desorganização, falta de monitoramento e divulgação precária.

Hoje, quem quiser se vacinar deve estar disposto a enfrentar filas quilométricas e passar até 3 horas esperando. Isso porque não há qualquer organização por parte do governo Ibaneis na elaboração dos calendários e na distribuição de pessoal para aplicação das vacinas.

Guilherme Oliveira, 26, tomou a primeira dose da vacina em maio e só conseguiu ser imunizado após muita correria. Morador de Samambaia, o estudante agendou a vacinação para Santa Maria, região administrativa com disponibilidade mais próxima da sua casa. No entanto, mesmo com agendamento, ao chegar no local, foi informado que os imunizantes tinham acabado. "Precisei ir em mais dois postos de Saúde para conseguir vacinar. A minha sorte é que estava de carro, porque se fosse de transporte público, não conseguiria chegar a tempo no local e perderia a vaga", afirmou.

Ações equivocadas

O deputado distrital Fábio Félix (PSol) destacou que esses problemas vivenciados pela população vêm ocorrendo porque o GDF tomou uma série de medidas equivocadas ao longo do processo de vacinação. Ele, que é também presidente da Comissão Especial da Vacinação Contra Covid-19 no DF ─ instaurada na Câmara Legislativa do DF ─ apontou que um dos principais equívocos foi a implementação do agendamento prévio.

"Agendar a vacinação para grupos específicos, como pessoas com comorbidades, é uma coisa. Agora delimitar para a população quando se abre a vacinação por idades, cria-se várias barreiras e filtros nesse processo e o pior deles é o filtro da desigualdade. Muitas pessoas não têm acesso à internet ou condições de fazer o agendamento. Sem contar que o sistema de agendamento era ruim. Isso atrasou muito o calendário vacinal do DF", afirmou o deputado.

Após muita mobilização da sociedade civil e de diversos movimentos e parlamentares, o GDF retirou a necessidade de agendamento prévio, o que possibilitou que a vacinação tivesse avanços na capital federal.  Ainda assim, o DF só vacinou pouco mais de 20% da sua população.

"Poderíamos estar melhor e ter salvado mais vidas, se o governo do DF tivesse tido mais responsabilidade, seja para comprar a vacina, seja pressionar o governo federal para que mandasse mais doses necessárias para abastecer o DF", disse.

Vale lembrar que o governo Ibaneis segue o calendário de imunização do governo Bolsonaro e, diferente de outros estados, não comprou diretamente os imunizantes. Isso quer dizer que todas as vacinas que chegam ao DF é parte do quantitativo enviado pelo governo federal, que delongou vários meses para iniciar o processo de vacinação.

A compra direta das vacinas pelo governo Ibaneis é uma pauta da CUT desde o final do ano passado, quando os imunizantes começaram a ser vendidos. Inclusive, a Central enviou um documento ao governador Ibaneis explicando a urgente necessidade da compra e destacando que o DF tem estrutura para armazenamento das doses.

"Quando as primeiras vacinas começaram a ser aprovadas para uso, alertamos o GDF sobre a necessidade de comprar imediatamente os imunizantes, como outras entidades federativas estavam fazendo. Porém, Ibaneis preferiu seguir o planejamento do governo Bolsonaro que, como estamos vendo, foi tardio. Não fosse isso, o GDF poderia ter salvado várias vidas", disse o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

Mais problemas

Outro grande empecilho que envolve o processo de vacinação no DF é a ausência de monitoramento das pessoas que tomaram a primeira dose, mas que não retornaram para tomar a segunda. Na quinta-feira (12), o GDF anunciou a ampliação da vacinação para pessoas com 20 anos ou mais e a previsão é que na próxima semana grupos com 18 anos também sejam imunizados.

Entretanto, apesar do avanço nas faixas etárias, existe a preocupação de as doses disponíveis não serem suficientes para atender os grupos contemplados e concluir o ciclo de imunização das faixas etárias anteriores.

"Não há, por parte do GDF, uma política efetiva para que as pessoas retornem aos locais de vacinação para tomar a segunda dose. Não está sendo realizada nenhuma estratégia efetiva de busca ativa desses grupos. É preciso que seja realizada a conscientização de maneira mais incisiva para que a população tome as duas doses necessárias para garantir a imunização", disse a presidenta do Conselho de Saúde do DF, Jeovânia Rodrigues.

O mesmo problema é destacado pela deputada distrital Arlete Sampaio (PT-DF), que alerta para a necessidade de acompanhar se houve, de fato, a imunização efetiva para cada faixa etária."Não adianta avançar para 18 anos se não sabemos se todas as pessoas do grupo etário anterior já foram vacinadas. É preciso garantir às pessoas lá da ponta, que têm dificuldades porque trabalham muito,a possibilidade de vacinar", destacou a parlamentar.

Devido à ausência da conscientização da população, mais de 65 mil pessoas não voltaram para tomar segunda dose no DF. O levantamento obtido pelo G1, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), observou dados registrados até 10 de maio.

A parlamentar ainda ressaltou que parte dos problemas acontece em decorrência do sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS). "Todos esses problemas demonstram a precariedades que tem nosso SUS no DF. Precisamos trabalhar e garantir que, de fato, todas as pessoas sejam vacinadas. É fundamental também contribuirmos para a conscientização das pessoas e reforçar a importância da vacinação", disse Arlete.