Escrito por: Marina Maria

Debate sobre direitos das pessoas LGBTQIA+ abre CECUT-DF

“É na diversidade que a gente se encontra” foi o primeiro painel do Congresso Estadual da CUT-DF

Não se pode debater direitos trabalhistas, convenção coletiva, representatividade no movimento sindical sem abordar as lutas das pessoas que estão mais vulneráveis ao assédio, às violências, à exclusão do mercado de trabalho. A afirmação foi o centro dos debates do primeiro painel do Congresso Estadual da CUT-DF (CECUT), “´É na diversidade que a gente se encontra”, nesta sexta-feira (18).

Nivea Magno

“É muito significativo que sejamos a primeira mesa”, pontuou João Macedo, do Coletivo LGBT da CUT-DF. O sindicalista informou que apenas dois dos sete maiores sindicatos do DF possuem coletivos voltados à discussão dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores LGBTQIA+. Para ele, é tarefa das entidades sindicais criar esses mecanismos de representatividade.  

Ludmila Brasil, da Secretaria LGBTQIA+ do PT-DF, afirmou que uma das tarefas dos movimentos de esquerda é compreender o acolhimento como um processo revolucionário e político de combate às violências que ceifam uma quantidade exorbitante de vidas em nosso país. “Se não é a CUT, entidade que sempre foi ponta de lança nos debates trabalhistas, quem vai alimentar esse debate? Quem vai valorizar políticas para debater as vidas LGBTs?”, questionou. 

A ativista disse ainda que é preciso erradicar todo e qualquer tipo de violência dos movimentos sociais, dos partidos políticos e dos sindicatos para avançar de verdade na defesa da classe trabalhadora, e que é preciso pautar a luta pelos direitos das pessoas LGBTQIA+ com a mesma intensidade com a qual as vidas dessa população são interrompidas. “Se hoje eu estou aqui, é porque muitas meninas negras e lésbicas morreram antes de mim. Não podemos olhar para trás e ver tantos corpos caídos sem olhar para frente e ter uma perspectiva de futuro com esperança e reconstrução. É preciso radicalizar o conceito de dignidade. Precisamos construir coletivamente, não nos destruir progressivamente.”

Nada por nós sem nós 

Para a secretária nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIAPN+, Symmy Larrat, a luta contra o sistema capitalista precisa estar atrelada ao enfrentamento ao patriarcado, que é uma das raízes dessa estrutura. “Temos que abraçar o  conjunto de singularidades e especificidades que a sociedade coloca para fora. Então, vamos defender todas as trabalhadoras e os trabalhadores num conjunto mais amplo. Olhar as diferenças não é criar espaços diferentes, mas introjetar no nosso saber cotidiano todas as formas de olhar”, afirmou Symmy. 

A secretária, cuja a história de militância passou pela CUT do Pará, destacou que atualmente o país está à frente de todo o mundo no que diz respeito ao espaço do governo ocupado pela população LGBTQIA+, representada pela Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIAPN+. 

Alessandra Camarano,  advogada especialista em Direito e Processo do Trabalho, destacou a importância da CUT tocar “o dedo na ferida” e enxergar como o movimento sindical ainda está obsoleto em relação a alguns debates, como os que dizem respeito aos direitos da população LGBTQIA+. 

“Precisamos fazer a conscientização das trabalhadoras e dos trabalhadores olho no olho; a tecnologia não substitui essa proximidade e empatia”, afirmou Alessandra. Para a advogada, também é necessária a inclusão das pessoas LGBTQIA+ nos lugares de poder dos sindicatos, para que elas possam dizer suas demandas e o que é importante para elas. “Não adianta essa prepotência de ‘vou lutar por você’. Tem que ser lado a lado, ombro a ombro. Como é um bordão do movimento antirrascista ‘nada por nós sem nós’”, explicou. 

Para Alessandra, só é possível ter uma democracia completa com igualdade em todos os campos. A advogada lembrou ainda que o momento é favorável para incluir direitos das pessoas LGBTQIA+ nas cláusulas dos acordos coletivos. 

CECUT-DF

O Congresso Estadual da CUT-DF, iniciado nesta sexta (18), vai até domingo (20). No encontro, além dos debates, será eleita a nova gestão da Central e aprovadas as estratégias e o Plano de Lutas para o quadriênio 2023-2027.

Ainda nesta sexta, serão realizadas as mesas “Direitos Humanos e Prática Sindical junto à Classe Trabalhadora”, “O futuro do Mundo do Trabalho, Juventude e Cultura”, além do lançamento da revista de 40 anos da CUT e a abertura política do CECUT-DF. 

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