MENU

De gripezinha a jacaré: o que Bolsonaro quer com manutenção da pandemia

"Além de ser negacionista, contra ciência e a saúde pública, Bolsonaro não quer o povo brasileiro vacinado porque não quer o povo nas ruas manifestando contra o seu governo", avalia ex-ministro da Saúde

Publicado: 21 Janeiro, 2021 - 16h04 | Última modificação: 25 Janeiro, 2021 - 15h42

Escrito por: Vanessa Galassi

notice

Por Vanessa Galassi para a CUT-DF

Desde o primeiro anúncio da possível chegada da vacina contra a Covid-19 no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro vem requentando seu repertório de bizarrices. Boicote financeiro ao desenvolvimento do imunizante, estímulo recorrente para que a população não se vacine e questionamentos cientificamente infundados sobre sua eficácia vêm sendo realizados sem constrangimento pelo ex-militar que chegou a falar que quem fosse vacinado poderia virar jacaré. O interesse em manter a pandemia firme e o medo da morte vigente pode estar além do convicto perfil negacionista e obscurantista de Bolsonaro, que claramente não abriria mão de se aproveitar de um evento capaz de impedir a população de denunciar seu governo.

 “Bolsonaro além ser negacionista, contra ciência e a saúde pública, não quer o povo brasileiro vacinado porque não quer o povo nas ruas manifestando contra o seu governo, a favor do impeachment”, disse o ex-ministro da Saúde e atual deputado federal do PT-SP Alexandre Padilha, em entrevista para a CUT-DF.

 “Desde o início da pandemia, Bolsonaro conduz a maior tragédia humana que o país já registrou de maneira genocida. Menospreza as recomendações feitas pelas autoridades sanitárias no combate e prevenção, menospreza os trabalhadores da saúde, menospreza a vida das pessoas. E quer retirar em 2021 R$ 35 bilhões do orçamento para a saúde do país em meio à pandemia. O Brasil é um dos epicentros da transmissão e do número de mortes e o governo federal não garantiu a quantidade de testagem necessária, a melhor orientação para prevenção, não levou mais médicos para onde precisava. Fez ao contrário de tudo isso e estabeleceu uma guerra entre governadores e prefeitos, justamente quando o país precisava estar unido”, critica Padilha, que indica como os principais erros do governo Bolsonaro durante a pandemia o “negacionismo e a xenofobia ideológica”. “Foi assustador ver a chacota do presidente Bolsonaro com relação à parceria do Instituto Butantan com laboratório chinês”, diz.

O que torna o cenário ainda mais grave é a constatação de que o comportamento de um presidente pode influenciar muita gente, mesmo que esse presidente seja Jair Bolsonaro. Não por acaso, pesquisa do Datafolha realizada em dezembro do ano passado registrou que, no país em que o número de mortes pela Covid-19 ultrapassa 210 mil, 22% da população declara não querer tomar a vacina contra o vírus, ainda que essa seja a única forma de conter a pandemia que persiste há quase um ano, sem dar trégua. 

A professora da Universidade Federal do Ceará e pesquisadora de Comunicação Social Helena Martins alerta que a “linguagem constrói realidade e tem impactos concretos na sociedade”. “No ano passado, uma pesquisa científica mostrou como os discursos do Trump (Donald Trump) eram os principais responsáveis pela divulgação do negacionismo em relação à pandemia do novo coronavírus (nos Estados Unidos). É muito fácil a gente fazer essa vinculação também com Bolsonaro. Acompanhei grupos de WhatsApp no ano passado, por causa das eleições municipais, e era nítido como as falas de Bolsonaro animavam debates e outras comunicações negacionistas em relação à vacina (contra a Covid-19)”, diz.

Paralelo a isso, a docente lembra que está em curso uma campanha de desinformação, mais conhecida como fake news, sobre a CoronaVac e a própria pandemia. “Não é possível dizer que essas campanhas derivam diretamente do governo Bolsonaro, mas o governo, sem dúvidas, ajuda a promover esse tipo de discurso com as suas falas e posicionamentos dos seus ministros”, avalia Helena Martins.

 Embora o plano de Bolsonaro tenha mostrado se pautar basicamente no boicote ao controle da pandemia da Covid-19 no Brasil, o analista político Antônio Augusto de Queiroz acredita que, com a aprovação da CoronaVac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o início da vacinação emergencial no estado de São Paulo e outros estados, o governo federal vai “jogar esforço para recuperar o terreno perdido e tentar se associar à vacina, pois ela é uma demanda nacional”.

“A sobrevivência política de Bolsonaro está em jogo; e ele muda de opinião de uma hora para outra. É um oportunista. É um cara que só pensa na eleição”, critica Queiroz. Segundo ele, o governo que antes fez todos os esforços para atrasar a vacinação contra a Covid-19 no Brasil, agora vai querer ampliar apoio social com a vacina produzida pelo InsitutoButantan, vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), em parceria com a farmacêutica chinesa Sinvac.

Independente do que pretende Bolsonaro, que voltou a defender o ineficaz “tratamento precoce” da Covid-19 com medicamentos como invermectina e cloroquina, o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, avalia que só a luta organizada será capaz de colocar fim à pandemia e ao responsável pelo seu agravamento: o governo Bolsonaro. “Se aproveitar da pandemia e viabilizar seu agravamento é, indiscutivelmente, um projeto do governo federal. Com a pior doença do século, o governo justificou desemprego, economia fragilizada, retirada de recursos de áreas sociais e projetos antipovo, como o congelamento salarial de servidores públicos. O que resta para nós da esquerda é nos unirmos enquanto uma única classe, a classe trabalhadora, para exigir a vacinação contra a Covid-19 para todas e todos, mas também para exigir o fim do vírus letal do bolsonarismo”, convida.

Sem alternativas diante da atuação impune de um governo genocida, movimentos da sociedade civil, como a CUT e as frentes Brasil Popular e Povo Sem medo, organizam manifestações exigindo o fim do governo Bolsonaro e a vacinação já para todos. O movimento vem se multiplicado com novas adesões e encurrala Bolsonaro.