Escrito por: Marina Maria

CUT-DF inaugura Ponto de Apoio ao Trabalhador nesta sexta (8)

Localizado na galeria do Hotel Nacional, o espaço serve como exemplo de atendimento às demandas de milhares de trabalhadores do Distrito Federal

Jean Maciel

Para garantir melhores condições de vida e de trabalho para aquelas e aqueles que desempenham suas atividades na rua - como é o caso de entregadores por aplicativo - a CUT-DF, em parceria com alguns sindicatos, vai inaugurar, a partir das 15h desta sexta-feira (08), o Ponto de Apoio ao Trabalhador.  Localizado estrategicamente na área central de Brasília, na galeria do  Hotel Nacional, o espaço terá capacidade para acolher essas trabalhadoras e trabalhadores, que poderão recarregar as baterias de seus aparelhos, se alimentar, aguardar as próximas entregas ou turnos, utilizar sanitários e tomar água, por exemplo.

“São necessidades básicas de todas as pessoas, mas que são negligenciadas pelas empresas prestadoras de serviço e pelo governo. O ponto de apoio ganhou maior visibilidade com os entregadores por aplicativo, que estão submetidos a esse modelo de trabalho de serviços conforme a demanda e sem que haja vínculo empregatício. Mas esse espaço é também pauta histórica de quem tem relação de trabalho considerada não eventual. Ou seja, a reflexão é de que, em pleno século XXI, há milhares de trabalhadores sem direitos básicos, que garantem dignidade à pessoa humana”, afirma o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues.

O secretário de Relações Internacionais da CUT Brasil, Antonio Lisboa, lembra que a obrigação de criação desses espaços de apoio para trabalhadores que atuam nas ruas é de obrigação do poder público. “Já que o mesmo não se mobiliza em prol desses trabalhadores, estamos fazendo a nossa parte. Esses segmentos não podem permanecer em condições extremamente precárias.”, diz. 

Alessandro da Conceição, o Sorriso, representante dos entregadores por aplicativo no DF, destaca que as empresas que contratam os serviços da categoria nunca tiveram a disposição de fornecer local de descanso para os trabalhadores. Por isso, ele comemora a iniciativa da CUT e convida para a inauguração do Ponto de Apoio ao Trabalhador. “Esse espaço é uma necessidade que a gente tem há muito tempo. É muito importante que os entregadores participem da inauguração para conhecer o lugar e prestigiar essa iniciativa”, afirma.

Atualmente, o Distrito Federal tem cerca de 50 mil entregadoras e entregadores por aplicativo, além de outras categorias que compartilham da mesma rotina do trabalho na rua, como vendedores ambulantes e trabalhadores da limpeza urbana.

Desumanidade

Iury Appolinário (28) foi entregador durante três anos e atendia às plataformas Ifood e Uber Eats. Ele relata que geralmente trabalhava do período do café da manhã até às 15h, e depois, das 17h às 23h. Como realizava as entregas de bicicleta, Iury chegava a rodar 80 km por dia, e faturava entre R$ 400 e R$ 600 semanais.

“Pouquíssimos estabelecimentos ajudavam os entregadores, dos que eu me recordo, havia um restaurante que fornecia água, banheiro e vendia marmitas com preço acessível para os  trabalhadores. Mas nos outros estabelecimentos éramos recebidos muito mal”, recordou.

“Felizmente eu tinha onde dormir no Plano Piloto, mas outros entregadores passavam a noite debaixo de alguns prédios. A maioria morava no entorno e acabava que não tinha como ir embora”, relatou Iury, que muitas vezes, do apartamento de parentes em que passava a noite, na área central de Brasília, fornecia água para os colegas e arrumava extensões para carregar os celulares dos trabalhadores durante a noite.   

O jovem afirma ainda que durante a pandemia, o máximo que as empresas faziam pelos trabalhadores era fornecer um kit mensal com álcool em gel e máscaras. Embora tenha sido instituído o “auxílio Covid” pelo Ifood, o sistema foi implementado de forma muito precária e aconteceram vários erros. “Tínhamos que fazer exames por conta própria, enviar para a empresa, esperar uma resposta deles, que sempre demorava muito, e quando aprovavam o auxílio, bloqueavam a conta de quem estava infectado pra não rodarem doentes, só que muitos acabaram ficando bloqueados para sempre”, afirmou Iury.

Segundo dados da pesquisa Condições de Direito e Diálogo Social de Trabalhadores e Trabalhadoras do Setor de Entrega por Aplicativo em Brasília e Recife, resultado de uma parceria entre a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Organização Internacional do Trabalho (OIT), 92% dos entregadores são homens, a maioria jovens até 30 anos; de cor preta ou parda, 68%. Com renda mensal de R$ 1.172,63, o que significa um ganho líquido de R$ 5,03 por hora trabalhada.