Escrito por: Marina Maria e Vanessa Galassi

CUT-DF debate perspectivas da violência de gênero durante seminário

Evento aconteceu na manhã de domingo (24) e lotou auditório Adelino Cassis com público majoritariamente feminino

Leandro Gomes

Em distintos recortes, mulheres estão expostas a várias formas de violência no ambiente de trabalho – e fora dele também. De metas inalcançáveis para garantir progressão de carreira a assédio sexual, de não poder utilizar seu nome social a não ter acesso a direitos básicos como licença maternidade, todas elas resistem cotidianamente à estrutura patriarcal, braço do capitalismo.

Durante o Seminário “Violências e Realidades das Mulheres no Mundo do Trabalho”, realizado nesse domingo (24/11) como programação da CUT-DF dentro da campanha 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, a secretária da Central, Thaísa Magalhães, afirmou que o combate à violência contra as mulheres perpassa o entendimento de que “a sustentabilidade da vida tem que estar no centro dos debates”.

“O desenvolvimento tem que ser concebido com outra perspectiva, distante desse desenvolvimento que explora territórios, que retira os povos originários das suas terras; que é braço do capitalismo. O desenvolvimento tem que conceber a sustentabilidade da vida, e as mulheres do campo têm papel primordial nessa mudança, com a prática da agroecologia familiar, dos conhecimentos e manuseios sem utilização do que expropria. Essas mulheres têm que ter cada vez mais voz, pois sem elas não há vida na cidade”, disse.

Se de um lado se discute a reconfiguração de um sistema econômico, de outro o movimento feminista ainda precisa combater lutas históricas e básicas para uma sociedade menos violenta com as mulheres.

Durante o seminário, a secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Amanda Corcino, destacou os dados indicativos do aumento das violências contra as mulheres. “Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança 2023, tivemos um aumento de todos os tipos de violência contra as mulheres. Sofremos 1.467 feminicídios em 2023, 84% cometidos por um familiar, conhecido, parceiros, pessoas próximas. No mesmo período foram registrados mais de 83 mil estupros, 61% de meninas até 13 anos”, afirmou.

Amanda Corcino lembrou que esses números são defasados, pois grande parte das mulheres, por diversos motivos, não chegam a denunciar as violências sofridas. “As nossas meninas também continuam sendo vítimas de muitos tipos de violações. Também por isso, é fundamental continuar o nosso enfrentamento a qualquer projeto que impeça o aborto nos casos previstos na Lei”, explicou.

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Segundo a sindicalista, mudar essa realidade passa pela promoção de “políticas públicas de enfrentamento às violências”. Amanda também afirmou que os acordos e convenções coletivas das categorias são um instrumento para garantir mais direitos para as mulheres inseridas no mercado de trabalho e utilizar esse método de negociação é uma orientação da CUT às entidades filiadas.

Precarização, privatização e capital 

No seminário “Violências e Realidades das Mulheres no Mundo do Trabalho”, a dirigente da CUT-DF e do Stiu (Sindicato dos Urbanitários do DF), Fabíola Antezana, lembrou o duro processo de privatização e precarização enfrentado pelas estatais e empresas de economia mista. De acordo com ela, as trabalhadoras são muito mais afetadas nos cortes e perdas de direitos, diante de regras estabelecidas para ascender na carreira.

“No sistema Eletrobrás, aqui no DF, nas últimas três semanas, foram sete demissões, cinco foram mulheres". Desse grupo, quatro ‘fugiram’ dos quesitos sobre produtividade: apresentaram atestado médico para acompanhamento de filho ou de pais com problema de saúde, além de atestado médico para tratamento de saúde mental.

Segundo Fabíola, nacionalmente, das 80 pessoas demitidas, 55 eram mulheres. "As métricas que as empresas nos impõem dificultam progressão da carreira, ascensão a cargos mesmo sabendo que as mulheres, muitas vezes têm maior nível de formação”, disse.  

Realidades invisíveis

Lucci Laporta, militante pelos direitos das mulheres transsexuais e travestis, que também participou do seminário da CUT, lembrou a dificuldade encontrada inclusive para levantar dados e índices das violências sofridas por esse segmento. Isso porque não existem números oficiais.

Segundo ela, os números levantados pela sociedade civil organizada mostram que “73% das travestis e mulheres trans não têm ensino médio completo, 56% não têm ensino fundamental e 90% das travestis ou mulheres trans já precisou recorrer à prostituição para sobreviver”, revelou Lucci.  

“Não devemos ter um discurso moralista e criminalizador sobre a prostituição, mas se 90% de um grupo social está inserido nesse trabalho, sabemos que não é uma escolha. Muitas mulheres trans e travestis consideram a rua mais acolhedora do que o ambiente formal de trabalho por causa dos constrangimentos a que são expostas”, afirmou Laporta.

Sobre a realidade das mulheres do campo, Alessandra Farias, dirigente estadual do MST, destacou a invisibilidade das violências sofridas pelas mulheres desse setor, tanto pelo isolamento quanto pela própria cultura ensinada.

“São violências simbólicas, estéticas, patrimoniais e econômicas. Na maioria das vezes, as famílias no campo são chefiadas por mulheres que têm jornadas de trabalho múltiplas, mas cuja renda é controlada por homens. Além disso, se uma mulher deixa seus filhos, a casa, o marido para fazer uma mobilização, uma ocupação, ela é  taxada como tudo, menos uma pessoa política. Quando parimos, são poucos dias em casa e voltamos para o campo”, denunciou.

Embora os avanços garantidos nos últimos tempos, como o protagonismo das mulheres no debate agroecológico e a redução dos índices de analfabetismo, Alessandra Farias avalia que o movimento feminista ainda não tomou a proporção devida dentro do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra. “Vejam a diferença do apelo no Abril Vermelho e no 8 de Março”, refletiu.

O seminário “Violências e Realidades das Mulheres no Mundo do Trabalho” reuniu dezenas de representantes de sindicatos e organizações da sociedade civil, com lotação máxima do auditório Adelino Cassis. 

A imprensa da CUT-DF também produziu um vídeo sobre o tema. Assista abaixo: