Escrito por: Marina Maria

Conferência Livre de Políticas para as Mulheres da CUT-DF elege duas delegadas

Evento reuniu dezenas de militantes e dirigentes comprometidas com a pauta das trabalhadoras

Marina Maria

Na última quarta (9), a Conferência Livre de Políticas para as Mulheres, promovida pela CUT-DF, lotou o auditório da entidade no Distrito Federal, reunindo militantes de diversos sindicatos, frentes políticas e movimentos sociais. O objetivo foi debater e eleger as delegadas que representarão o movimento na etapa nacional da conferência, prevista para agosto.

“O acúmulo de vários trabalhos fez parte da vida das mulheres há muito tempo, mesmo das mulheres de elite, que estavam ali cumprindo com o trabalho de educação, com o trabalho doméstico, que são trabalhos regulamentados, remunerados, mas a gente não recebe por eles”, afirmou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães. 

Thaísa lembrou que o processo de precarização do trabalho piorou no período da pandemia, quando quase 50% da população do DF ficou desempregada, contingente composto em sua maioria por mulheres.

“A questão do trabalho na vida das mulheres que são o pilar da família brasileira. A gente precisa ter uma série de políticas que estruturam a vida das mulheres no mundo do trabalho. Precisa ter a diminuição da jornada de trabalho sem redução de trabalho, valorização do salário mínimo, a ampliação das creches e ensino integral, estruturação da saúde integrativa e familiar, ampliação de políticas de combate à violência, processo de criação de emprego e renda que sejam onde as mulheres acessem direitos”, afirmou Thaísa Magalhães.

Desafios

Durante o evento, diversas vozes se levantaram para discutir os desafios enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho, na sociedade e na luta por direitos. A economista Mariel Angeli, responsável técnica pelo escritório do Dieese em Brasília, destacou a centralidade da vida das trabalhadoras além do trabalho formal. “Provavelmente todas vocês trabalharam de alguma forma hoje: estudaram, cuidaram de alguém, limparam a casa, atenderam telefone. A nossa vida enquanto trabalhadoras é muito mais do que o que fazemos no emprego. O tempo fora do trabalho é fundamental para nossa qualidade de vida”, afirmou.

Mariel também apresentou dados alarmantes: no Brasil, quase 45 milhões de mulheres em idade de trabalhar estão na força de trabalho, sendo 4 milhões desempregadas e 41 milhões fora do mercado, incluindo 1,7 milhão que não conseguem se inserir devido às responsabilidades domésticas ou cuidados familiares. Ela ressaltou que, em 2022, as mulheres trabalhavam em média 21 dias a mais do que os homens em atividades domésticas, evidenciando a sobrecarga de tarefas não remuneradas.

Desde 2012, segundo Mariel, pouco mudou na situação das mulheres no país, apesar de avanços como a PEC das Domésticas e a Lei de Igualdade Salarial. No entanto, as barreiras no mercado de trabalho permanecem. Segundo dados dá Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a PNAD, cerca de 13 milhões de mulheres não estavam empregadas, em 2024 por necessidade de cuidar de parentes ou por obrigações domésticas, o que limita suas possibilidades de profissionalização e ascensão.

Apesar da presença feminina no mercado ser grande, muitas mulheres continuam sendo as cuidadoras principais, enfrentando dificuldades para manter seus empregos, especialmente após o nascimento de filhos. A licença-paternidade, por exemplo, dura de 5 a 20 dias, e elas assumem toda a responsabilidade pelos cuidados, o que impacta suas carreiras.

Alessandra Camarano, vice-presidenta da Associação dos Advogados Trabalhistas da América Latina (ALAL), destacou que, apesar do aumento da escolaridade feminina, as mulheres ainda enfrentam desigualdades estruturais, como a precarização do trabalho e a pejotização, que ameaçam direitos conquistados.

Camarano também abordou a influência da mídia na deslegitimação da CLT e a crescente precarização do trabalho, com a propaganda de que a informalidade e a terceirização são caminhos legítimos, o que ela chamou de “lavagem cerebral”. Ela alertou ainda para o impacto de decisões judiciais que transferem competências da Justiça do Trabalho para a Justiça comum, dificultando o acesso das mulheres à justiça em questões como pensões e medidas protetivas.

A política nacional de cuidados, que virou lei no final do ano passado, foi destacada como uma conquista importante, mas que ainda necessita de implementação efetiva. Alessandra Camarano reforçou a necessidade de a sociedade civil atuar como multiplicadora de políticas públicas que reduzam a carga de trabalho não remunerado e promovam a saúde mental das mulheres.

Nilza Cristina Gomes dos Santos e Antonia Ferreira foram eleitas para representar as trabalhadoras do DF na etapa nacional da Conferência e levar as discussões e as reivindicações do segmento.

A atividade foi transmitida ao vivo pelo youtube da CUT-DF é pode ser assistida aqui.  

>>> Veja fotos do evento.