Concentração midiática e a gramática da manipulação são temas de oficina
“É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”. Essa expressão emblemática, que carrega em si uma prática bastante recorrente nos meios de comunicação tradicionais, foi comprovada ― por meio de diversos exemplos ― pela jornalista Letícia Sallorenzo, em seu livro “Gramática da manipulação: como os jornais trabalham as manchetes em tempos de […]
Publicado: 26 Setembro, 2018 - 17h52
Escrito por: Cutbsb@123
“É possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade”. Essa expressão emblemática, que carrega em si uma prática bastante recorrente nos meios de comunicação tradicionais, foi comprovada ― por meio de diversos exemplos ― pela jornalista Letícia Sallorenzo, em seu livro “Gramática da manipulação: como os jornais trabalham as manchetes em tempos de eleições (e em outros tempos também)”. A problemática da questão foi tema de oficina do Coletivo de Comunicação da CUT Brasília, nesta quarta (26).
O livro, lançado recentemente, é resultado da dissertação de mestrado defendida pela autora, pelo Programa de Pós Graduação em Linguística (PPGL) da Universidade de Brasília (UnB). A análise cognitivo-funcional foi desenvolvida durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Foram estudadas 340 manchetes internas e de capa, publicadas pelos jornais O Globo e Folha de São Paulo.
Na obra, a autora ainda explica as diferenças entre sintaxe, semântica e pragmática, e como as informações linguísticas são organizadas no cérebro, no que ela identifica como processo de categorização. Ela também comprova que um título tendencioso pode levar o leitor a apreender o conteúdo de forma destorcida.
De acordo com Letícia, esse processo de manipulação é consequência da concentração exacerbada dos meios de comunicação, que impedem que o cidadão tenha acesso às notícias com análises e visões distintas. “Isso é um problema que ocorre quando diversas empresas de mídia falam a mesma coisa e não respeitam que seus leitores, espectadores ou ouvintes, possam pensar diferente. Nesse momento, a despeito de qualquer discussão de democratização de mídia, pensando pela lógica de mercado, têm-se empresas jornalísticas que desrespeitam e desconsideram uma parte importante do seu público-alvo”, explica.
Ela destaca ainda que, no decorrer dos anos, o processo de manipulação trouxe graves consequências à sociedade. “Naquela ideia de que ‘água mole em pedra dura tanto bate até que fura’, acaba-se formando na cabeça das pessoas estereótipos que não são ideias racionais. São sensações que determinado indivíduo tem a respeito do outro, geralmente, negativas, e sem nenhuma base concreta. Então, na prática, a pessoa forma uma realidade própria a respeito do que está acontecendo”, explica.
Para o presidente interno da CUT Brasília, Rodrigo Rodrigues, o tema, por sua relevância, deve ser estendido a outros grupos, como dirigentes sindicais e militantes. “O debate de hoje comprovou o que já sabíamos: a mídia manipula e deixa a sociedade carente da verdade. Precisamos fortalecer a nossa comunicação para disputar narrativas e levar essa discussão para nossa base, pois, só a verdade liberta”, disse.
Fonte: CUT Brasilia
