Escrito por: Marina Maria

Combater a violência contra as mulheres | Uma luta de todas e todos nós

Dia mundial de mobilização reitera a urgência da erradicação da opressão de gênero

O Dia Internacional de Luta contra a Violência à Mulher teve origem há 61 anos, quando três irmãs, conhecidas como “Las Mariposas”, foram encontradas mortas por se oporem ao regime ditatorial do presidente Rafael Leónidas Trujillo, na República Dominicana. Dias antes, a ativista Minerva Mirabal, uma das vítimas, foi advertida sobre o que aconteceria. Então, ela disse a seguinte frase: "Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte”. Mal sabia que além de ser uma forte demonstração de coragem, o seu dizer seria uma profecia, pois a luta de Minerva e de suas irmãs eternizou-se em cada mulher que enfrenta a violência de gênero até os dias atuais. Muita coisa mudou desde então, mas as mulheres continuam sendo silenciadas de muitas formas, inclusive na mais brutal delas que é o assassinato. 

A história de “Las Mariposas” infelizmente não foi um caso isolado ou tratou-se de um tipo de crime que desapareceu com o tempo.  Há pouco mais de  três anos, a vereadora Marielle Franco se pronunciou pela última vez. As denúncias da expoente política carioca, a assertividade de sua fala e a ausência de temor com que Marielle afirmou que ninguém poderia calar a sua voz incomodou tanto que tentaram silenciá-la com o assassinato. Mais uma vez, os algozes não conquistaram seu objetivo. A luta da vereadora se multiplicou nas mulheres de todo o país e mesmo com as recorrentes tentativas de acobertar os reais mandantes do crime e desonrar sua imagem, a pergunta: “Quem mandou o amigo do presidente executar Marielle Franco?” ainda ecoa nas ruas, praças e avenidas brasileiras. 

A vereadora tornou-se símbolo de luta e resistência e terá a sua memória celebrada mais uma vez em Brasília, no próximo dia 04/12, quando movimentos sociais se reúnem na praça que leva o nome de Marielle para gritar: “Fora Bolsonaro!”.  

“As mulheres precisam saber que elas não estão sozinhas. Que existem muitas de nós nos organizando para combater o avanço das violências e desconstruir essa cultura machista e patriarcal, se organizar, estar com outras mulheres que têm o mesmo objetivo é um caminho de fortalecimento. Dentro do movimento sindical, os sindicatos e a CUT estão abertas para a organização das mulheres e para que a gente possa combater as violências seja em casa, no trabalho ou no nosso cotidiano. A nossa próxima atividade será o ato nacional pelo Fora Bolsonaro, Bolsonaro nunca mais, que vai acontecer em Brasília às 15h, na Praça Marielle Franco. Em todo o país várias mulheres estarão juntas com a gente”, afirma a Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães. 

Para a sindicalista, o governo que vivemos não enxerga que as violências contra as mulheres são algo ruim. “Então a gente não tem investimento em política pública de combate à violência, respeito, desconstrução do machismo e do patriarcado. O que a gente vive no Brasil e no Distrito Federal são governos negligentes com uma violência que mata as mulheres e não só mata, mas as mulheres que estamos vivas sofremos cotidianamente as consequências, o adoecimento, os riscos que a gente corre no dia a dia, no cerceamento. Uma mulher não pode andar na rua livre, isso é um direito constitucional primordial de poder ir e vir, as mulheres irem e virem significa estarem expostas a todo tipo de violência, na rua, em casa, no trabalho. E não existe investimento, muito pelo contrário, existe uma destruição das políticas públicas de combate às violências contra as mulheres. As políticas que existiam estão sendo desconstruídas”, explica Thaísa. 

 Caminhos da mudança 

 “O recado que podemos deixar para as mulheres e meninas em situação de violência é que podemos sim sair dessa situação. Todas nós em algum momento já passamos ou convivemos com algum tipo de violência e sabemos como é duro passar por isso. Ser mulher é muito desafiador, mas é também muito bom vencer todos esses desafios, mas precisamos de ajuda. Procure ajuda fora do seu ciclo mais restrito e procure ajuda profissional”, aconselha a Secretária de Comunicação da CUT-DF, Ana Paula Cusinato.  

A dirigente sindical, que também é militante da Marcha Mundial das Mulheres, afirma que o fato desse tipo de violência ser socialmente aceito e estimulado aumenta a dificuldade de sua erradicação. “Quando nós criticamos ou ouvimos uma crítica a uma mulher que é vítima de violência doméstica e não se liberta, nós estamos deixando de considerar que essa mulher pode ter crescido em uma família em que ela já sofria violência quando criança, pode não saber que tenha direito a ser respeitada. E isso existe aqui no Distrito Federal, aqui no Brasil, no mundo todo. A maior dificuldade é o silêncio, a vergonha. A violência contra as mulheres é assim, calada, silenciosa, passa de pai para filho, é patriarcal, é cultural”, explica Ana Paula. 

Para a Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, a mudança  na forma da sociedade encarar esse tipo de violência está acontecendo, mesmo com todas as dificuldades que se originam do fato do machismo e do patriarcado serem estruturas que ajudam a construir e manter o capitalismo. “No mundo inteiro a violência contra as mulheres é de forma velada instigada. E a violência doméstica como forma de manutenção de privilégios de poder dos homens acaba sendo um problema mundial”, explica. 

Para Thaísa, quando fala-se que a violência de gênero é uma questão estrutural, reproduzida em todos os âmbitos da sociedade, fica evidente o quão difícil é combatê-la porque há uma naturalização dessa violação. “E é tão avassalador que as pessoas se sentem impotentes frente a uma característica que está em todos os âmbitos de sua própria vida, mas a cultura muda, as sociedades mudam, quando a gente vê a diferença entre uma filha, uma mãe e uma avó frente a realidade da vida, a gente sabe que as coisas mudam, mas não é fácil, é um caminho longo que estamos percorrendo”, afirma a militante. 

O período que vai de hoje (25/11) até o dia 10 de dezembro constitui os 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres. No Brasil, a mobilização teve início no dia 20 de novembro - Dia da Consciência Negra – e acentua como o machismo e o racismo se alinham para tornar mais dura a vida das mulheres negras. 

A CUT-DF também publicou, nesta quinta-feira, uma entrevista com a presidenta do Conselho de Saúde do DF e do Sindicato dos Odontologistas do DF, Jeovânia Rodrigues, sobre os diversos tipos de violência sofridos pelas mulheres cotidianamente, disponível aqui. Na próxima quinta-feira, a entrevistada será a professora e dirigente sindical Rosilene Corrêa, que fala sobre o tema na perspectiva das educadoras.