Escrito por: Leandro Gomes

Chapa “Interlocução e Luta” continua na defesa da categoria

A disputa acirrada pela direção do Sindicato dos Policiais Civis do DF terminou com resultado desfavorável ao grupo que teve o apoio da CUT, mas proximidade no número de votos indica anseio por mudanças

Hélio Pereira

Os Policiais Civis do DF elegeram, no segundo turno, a diretoria que estará à frente do Sinpol ─ sindicato que representa a categoria ─ no próximo triênio 2023/26. Em uma disputa desigual e marcada pelo uso da estrutura da entidade sindical, a Chapa 10 “União e Luta” foi reeleita, com 1.531 votos. A Chapa 50 “Interlocução e Luta” ─ que contou com o apoio da CUT-DF e de lideranças progressistas ─, obteve 1180 votos.

Na avaliação dos integrantes da Chapa 50, apesar de não ter sido eleita, os votos recebidos mostraram o anseio dos Policiais Civis por mudanças. “O resultado não foi o que a gente esperava, mas dentro de um grupo de policiais conservadores fomos longe”, explicou Daniel Barros, que foi candidato à presidência pela Interlocução e Luta.

Uso da máquina

Na direção do Sinpol-DF há mais de 10 anos, a direção reeleita usou e abusou do aparato do sindicato para vencer o pleito. Entre as ações questionáveis, estão o envio de material de campanha favorecendo a Chapa 10, o uso de automóveis da entidade sindical para transportar eleitores no dia da eleição, e outras.

Além disso, a atual diretoria tentou realizar as eleições por meio de um aplicativo, o mesmo utilizado na disputa anterior e que foi alvo de críticas e supostas denúncias de fraudes. Como se não bastasse, a empresa que prestaria o serviço seria contratada pela própria Chapa 10, em um processo sem qualquer transparência. Mas, graças à luta da Chapa 50, foram utilizadas urnas do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) para realização do pleito.

Misoginia

É importante destacar que a Chapa 50 foi a única com uma mulher encabeçando a direção, algo que foi bem recebido pela categoria e que trouxe experiência para Inara Amorim, candidata a vice-presidente.

“Foi um processo muito rico. Em dois meses de campanha, aprendi 20 anos de engajamento e articulação na luta. Isso não pode se perder, pois são ganhos para a categoria. Minha participação na disputa conduziu um novo olhar às demandas específicas das Policiais Civis, pelas quais continuarei lutando independente do sindicato, afirmou.

Mas, apesar dos frutos colhidos, nem tudo foram flores. Após o encerramento do pleito, Inara lida, agora, com a misoginia e, inclusive, com ameaças à sua integridade.

No dia 31 de março, Inara postou um vídeo em suas redes sociais questionando a direção do Sinpol sobre vincular o curso de formação dos próximos Policiais Civis ao Centro de Formação da Polícia Militar do DF. “Fiz um vídeo enquanto Chapa questionando essa decisão por conta das nossas propostas de vinculação da Polícia Civil com a Polícia Federal e não com a PM. A partir daí, começaram os ataques nas redes sociais”, disse.

Além disso, segundo informações recebidas por Inara, alguns PMs estariam levantando informações sobre ela para, posteriormente, prejudicá-la. Ao tomar conhecimento dos fatos, a policial civil registrou um boletim de ocorrência e aguarda as investigações.

“Tudo isso porque me coloquei na disputa, mas não me arrependo”, afirmou.

Próximos passos

Apesar de não ter conseguido se eleger, a Chapa 50 garante que continuará na luta pelos Policiais Civis e que manterá uma relação de proximidade com a categoria para compreender melhor as demandas mais urgentes. “A gente vai continuar acompanhando todo o processo do sindicato, inclusive, cobrando a realização de assembleias, que não acontecem há três anos. Seguiremos exigindo que a direção saia da inércia e que, de fato, represente nossa categoria”, afirmou Daniel. 

Além disso, a Chapa destaca que estará em constante diálogo com o governo federal e com lideranças progressistas, que são alinhados às reivindicações do grupo.