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“Celebrar Teresa de Benguela é fortalecer a resistência das mulheres negras”

No Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, destacamos a importância dahistória, da resistência e da luta por igualdade e representatividade

Publicado: 25 Julho, 2025 - 10h30

Escrito por: Marina Maria/CUT-DF

Arte: Jean Maciel/CUT-DF
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Márcia Gilda (54) é professora há 33 anos e atual dirigente do Sinpro/DF.  Oriunda de família humilde e estudante de escola pública, ela sempre nutriu o sonho de ser educadora. A militante afirma que desde criança foi atravessada pelo racismo estrutural,sistema de desigualdades e discriminações enraizadas nas instituições, leis e práticas da nossa sociedade, perpetuando a desigualdade de forma invisível e influenciando o acesso a oportunidades, direitos e recursos. 

Lembro de uma entrevista de um amigo, também professor e negro em que ele dizia que ‘nós temos duas datas de nascimento. Uma quando viemos ao mundo e outra quando nos descobrimos negros, disse Márcia Gilda. 

Para a dirigente sindical, a cor da pele, é colocada numa sociedade racista, como um critério para saber se as pessoas serão bem tratadas ou não. “Eu já nasci me defendendo. Ser negro no nosso país, que cultua o mito da democracia racial, é também entender que a gente nasce lutando e continuará assim o tempo inteiro”, afirmou. 

Militância como forma de sobrevivência

Márcia Gilda afirma que foi ensinada já pelos pais a combater situações de racismo. Por isso, começou muito cedo na militância, ainda no movimento estudantil.  Quando começou a trabalhar, não foi diferente e logo começou a organizar os colegas, sindicalizar e encabeçar mobilizações. Hoje, a dirigente do Sinpro/DF acredita que a entidade é um espaço muito importante de combate às discriminações. 

A história desta sindicalista do Distrito Federal se confunde com muitas outras, de mulheres que foram marginalizadas, subjugadas e tiveram direitos negados pela cor de sua pele. Em um país ainda repleto de racismo e outros tipos de discriminação, elas resistem diuturnamente e enfrentam exclusão, violência e a gritante desigualdade.  

No Brasil, as mulheres negras têm uma renda média 50% menor do que a média geral das mulheres e dos homens, segundo o IBGE. A taxa de desemprego enfrentada por esse segmento também é maior (chegou a 17% em 2022, quando a média geral do país estava em torno de 10%), assim como a participação no mercado formal. 

O Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho, remete à força, resistência e enormes contribuições dessa parcela da sociedade que ainda clama por respeito, igualdade e oportunidades.

A data também homenageia Teresa de Benguela, uma líder quilombola e rainha do Quilombo de Quariterê, na região de Mato Grosso, no século XVIII. Teresa assumiu a liderança após a morte de seu marido, e seu povo resistiu às tentativas de escravidão e repressão por parte das autoridades coloniais portuguesas. A líder é lembrada por sua coragem, inteligência e pela luta pela liberdade. 

Celebrar Teresa de Benguela é fortalecer a resistência das mulheres negras na luta contra o racismo, honrar todas as mulheres que estão na base da pirâmide, são as mulheres negras. É buscar lutar contra a escala 6x1, é lutar contra o racismo estrutural, contra o racismo institucional, é lutar para que haja equidade nos espaços de poder, porque nos espaços de poder as mulheres negras estão minimamente representadas e nós precisamos ampliar esses espaços de representatividade, afirmou Márcia Gilda. 

A 2° Marcha Nacional de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver acontecerá em Brasília no dia 25 de novembro. O evento é um marco na luta pela garantia de direitos das mulheres negras no Brasil e será construído de forma coletiva. 

O ano de 2025 é um marco importante para a mobilização e organização da mulheres negras na luta por direitos, além da Marcha das Mulheres Negras teremos também a realização da 5ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Conapir), que será realizada em Brasília, de 15 a 19 de setembro. É um momento importante para debater, propor e construir políticas públicas, e cobrar do Estado brasileiro que haja reparação e responsabilização no combate ao racismo no Brasil, por um projeto político de nação que reconheça e valorize as mulheres negras, superando a marginalização, a subalternização e a negação de direitos, explicou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, Ana Cristina Machado. 

A CUT-DF vai realizar, em 9 de setembro, uma Plenária para mobilizar as trabalhadoras para a 2° Marcha das Mulheres Negras. Em breve, divulgaremos mais informações.