Assembleia do Sindiserviços homenageia Cilma Galvão
A dirigente sindical foi assassinada no último domingo (3)
Publicado: 08 Outubro, 2021 - 10h22
Escrito por: Marina Maria
Nesta quarta-feira (06), mesma data em que, em meio a muita dor e revolta, a família e amigos despediram-se de Cilma Galvão, o Sindicato onde a militante atuava - Sindiserviços/DF, realizou uma bela homenagem à ativista, durante assembleia realizada no estacionamento do Teatro Nacional. A CUT-DF, o Sinpro e movimentos feministas, como o Coletivo de Mulheres Negras Baobá e o Coletivo Mais de Nós estiveram presentes na atividade.
“Em nome da Central Única dos Trabalhadores, eu gostaria de dizer que a CUT está ao lado de cada uma e de cada um. Para além dos desafios que a gente já tem enfrentado com o desmonte dos nossos direitos, dos serviços públicos, de ataques à sociedade, a gente ainda enfrenta um governo que reforça violências contra as mulheres. O Sindiserviços é um Sindicato que temos ao nosso lado na luta no coletivo de mulheres, a Cilma já tinha se apresentado na organização da luta das mulheres. Essa perda é de cada um de vocês e da família, mas é também da classe trabalhadora que perdeu uma mulher que lutava não só por si mas por todas as mulheres e por toda a sociedade”, afirmou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães.
Em meio a cartazes reforçando a necessidade de lutar contra a violência de gênero, o patriarcalismo, e que exaltavam a companheira vítima de feminicídio com os dizeres “Cilma, presente!”, as mulheres tomaram a fala e utilizaram o espaço para conscientizar os presentes na assembleia.
“Cada uma de nós que morre apenas por ser mulher é motivo para mais luta, de todas as mulheres e homens. Todas as conquistas que temos hoje como mulheres são resultado de muita luta feminista e o aumento do feminicídio mostra como nossos direitos estão em risco, como estamos vivendo um grande retrocesso social. Nossa luta é pela vida de todas as mulheres, por igualdade, por direitos e principalmente pelo fim da violência que pode chegar à morte de uma mulher como aconteceu com a companheira Cilma e pode acontecer com qualquer uma de nós”, afirmou a secretária de Comunicação da CUT-DF, Ana Paula Cusinato.
A secretária de Assuntos e Políticas para Mulheres Educadoras do Sinpro/DF, Vilmara do Carmo, destacou a importância da conscientização dos homens nesse processo de luta contra a violência e o feminicídio. “Quero deixar o recado principalmente aos companheiros. Vocês que têm suas companheiras, suas mães, irmãs, filhas, colegas de trabalho, diretoras sindicais, respeitem e valorizem as mulheres. Não sejam omissos quando presenciarem situações de violência, não sejam coniventes. Porque esta sociedade que está estruturada no preconceito contra a mulher foi quem permitiu que um homem que se relacionou com Cilma a matasse do jeito que a matou, deixando marcas profundas na família que ficou extremamente consternada quando viu o corpo da companheira Cilma. Então é muito importante que vocês homens se somem a nós mulheres na luta contra o machismo, contra a discriminação”, afirmou a sindicalista.
A luta continua
A deputada Federal, Erika Kokay, emocionou os participantes da atividade ao falar da companheira Cilma Galvão e da importância de continuar a luta pela vida de todas as mulheres. “Eu não consigo olhar para esta assembleia e não imaginar que a Cilma estaria aqui, sem nenhuma dúvida. Ela estaria aqui conversando, se articulando, vendo como é que esta categoria poderia potencializar sua própria ação. São pessoas que deixam na gente o sentimento de que a gente tem que acreditar na humanidade”, afirmou a parlamentar.
“Era uma pessoa que lutou a vida inteira e lutou no sindicato contra toda forma de violência para que nós não tivéssemos uma discriminação que fere, que humilha, a discriminação que atinge os negros, atinge as mulheres e tantos outros segmentos na nossa sociedade. A Cilma faz parte daquelas mulheres que carregam uma coragem muito grande. Nesse sentido essa tristeza temos que transformar na construção de uma sociedade onde não haja dor em ser mulher”, refletiu Erika.
Para a dirigente do Coletivo de Mulheres Negras Baobás, Jacira da Silva, o exemplo de resistência de Cilma resiste à sua morte terrena. “Cilma nos representa. Hoje, ontem e sempre. Cilma significa a luta dessa mulher negra que resistiu a todas essas atrocidades que são a falta do direito de existir. Cilma, você fisicamente nos deixou, mas espiritualmente representa os nossos ancestrais. Você hoje é uma ancestral, uma ancestral que dedicou os minutos da sua vida por acreditar na luta coletiva, na luta de todas e todos. Uma mulher negra que estava em espaços de mudanças, de poder, esse poder que tem nos enxergar com visibilidade, com integridade, com dignidade”, afirmou.
Cilma foi assassinada em seu apartamento, em Santa Maria, no domingo (3). O principal suspeito pelo assassinato brutal da sindicalista, Evanildo das Neves da Hora ainda está foragido.