Escrito por: Marina Maria
Pelo menos cinco mulheres acusam o gestor, que entregou o cargo na tarde desta quarta-feira (29). Protestos foram realizados pela categoria com o apoio de vários outros setores
Em ato de solidariedade, trabalhadoras e trabalhadores de diversos segmentos estiveram, na manhã desta quarta-feira (29), em frente à sede da empresa em Brasília. Por respeito às bancárias vítimas de assédio sexual no ambiente laboral e pelo imediato afastamento do presidente da Caixa Econômica Federal, acusado de cometer os crimes, os militantes realizaram falas políticas, entregaram rosas às trabalhadoras do banco e garantiram que vão lutar junto às vítimas por justiça. Depois da onda de protestos e da repercussão do caso, Pedro pediu demissão.
A servidora da Caixa Econômica e diretora do Sindicato dos Bancários, Vanessa Sobreira, elogiou, durante o ato, a coragem das mulheres que denunciaram a gestão do banco apesar das represálias. “Me surpreende muito chegar aqui hoje e ver aquele evento sendo mantido depois dos absurdos que ouvimos. Quem teve o desgosto, como eu, de assistir as denúncias, fala por fala, sabe o que é e está tão enojado quanto. Mulheres que foram submetidas a situações vexatórias, se sentiram humilhadas, como objeto. Nós não somos objetos, nós construímos carreira aqui dentro desta empresa e merecemos respeito. São muitas mulheres que fazem a Caixa Econômica e elas não merecem a condição que está sendo imposta a elas”, afirmou a sindicalista.
Vanessa ainda disse que algumas mulheres afirmaram ter medo de denunciar pela segurança de suas famílias, pois Pedro Rodrigues chegou a falar em uma reunião que tinha 15 armas em casa, como uma forma de impor medo. “Que as mulheres sejam amparadas. A Caixa é nossa, é do povo brasileiro”, concluiu.
As denúncias começaram ainda em 2019, quando Pedro Guimarães assumiu o comando da empresa, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Integrante próximo do governo Federal, Pedro tem o costume de acompanhar o presidente em viagens e lives. O Ministério Público Federal investiga o caso.
Samantha Sousa, secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF e dirigente do Sindicato dos Bancários também esteve presente na atividade e prestou solidariedade às trabalhadoras vítimas de violência. “Não podemos aceitar esse tipo de assédio nas dependências do banco, temos que denunciar, não podemos nos calar. Temos a nossa representatividade e em tudo que fazemos merecemos ter o reconhecimento que precisamos. Aos bancários: ao presenciar ou ver uma colega sua sofrendo algum tipo de assédio, caso você não esteja encorajando aquela mulher ou denunciando, estará sendo conivente com essa prática. Denuncie!”. A dirigente sindical também deixou o número disponibilizado pelo Sindicato para denúncias de assédio e violência doméstica, uma iniciativa da secretaria de Mulheres do Sindicato dos Bancários, que fornece atendimento integral às vítimas, com suporte de saúde, psicológico, jurídico, dentre outros.
Cinismo
“Como se nada estivesse acontecendo, como se não houvesse a dor de bancárias da Caixa, que denunciaram o assédio sexual, o presidente do banco estava aqui presidindo um ato institucional, isso é muito cinismo deste que acha que as empregadas lhe pertencem, que as pessoas lhe pertencem, que a empresa lhe pertence, essa empresa é do povo brasileiro, não pode ser utilizada como palanque eleitoral, não pode ser ameaçada, como ele está fazendo”, afirmou a Deputada Federal Érika Kokay (PT-DF), referindo-se ao evento que anunciou estratégias para o Ano Safra 2022/2023, ocasião na qual o acusado citou sua esposa e afirmou "ter uma vida pautada na ética".
A ex-presidenta da Caixa, Maria Fernanda Coelho, divulgou nota de repúdio contra o assédio moral e sexual na empresa. “Nossa solidariedade às colegas que ousaram denunciar e registrar a série de abusos cometidos; faz-se necessário, de imediato, que tenham o apoio e a proteção necessária e contem com a devida reparação e o reconhecimento da violência. Vocês mostraram a essência desta gestão corporativa cravada de abusos, humilhação e dor", afirmou.
O Sindicato dos Bancários do DF reiterou que as trabalhadoras e trabalhadores que estiverem sofrendo assédio moral devem procurar a Ouvidoria do seu trabalho ou o Sindicato (9 9965.6882 ou 9 9656.3824) e relatar o acontecido. Nas hipóteses de assédio sexual e discriminação que configurem crime, a pessoa também pode registrar a ocorrência em uma delegacia. Além disso, o Sindicato também coloca à disposição a Clínica do Trabalho, serviço de apoio psicológico, por meio da Secretaria de Saúde (9 9801.1141).