Escrito por: Marina Maria
O evento de lançamento do livro: "Memórias de uma Depressiva" acontece no auditório Adelino Cassis, a partir das 19h desta sexta-feira (1°)
Na noite desta sexta-feira (1°/4), a partir das 19h, o auditório da CUT-DF recebe o lançamento do livro “Memórias de uma Depressiva”, obra que retrata as consequências do assédio moral na saúde mental da personagem principal, que sofreu na pele essa violência. Além de uma conversa com a autora, Patrícia Lopes, a atividade vai contar também com duas palestras sobre o tema.
Trabalhadora de um dos Conselhos de Fiscalização Profissional há 32 anos, Patrícia afirma que o livro foi escrito em 2020, como uma forma que ela encontrou para se expressar e mostrar que existe esperança para aquelas e aqueles que sofrem com o assédio e a depressão. “É uma forma de dizer: Não vamos nos calar! Nos compreendam! Não estamos sozinhos!”, afirmou a autora, que chegou a ser internada algumas vezes em decorrência dos traumas sofridos.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o assédio moral é um conjunto de comportamentos e práticas inaceitáveis, ou ameaças de tais comportamentos e práticas, que se manifestam apenas uma vez ou repetidamente, que objetivam causar, causam ou são suscetíveis de causar danos físicos, psicológicos, sexuais ou econômicos, incluída a violência e o assédio em razão de gênero. Um mal muitas vezes silencioso e naturalizado, o assédio moral é praticado em geral por superiores, mas também pode ser transversal, ou seja, realizado por colegas com o mesmo nível hierárquico dentro da empresa.
Tão difícil quanto compreender que está sendo vítima de assédio é provar que a violência está acontecendo, uma vez que se trata de uma agressão que não deixa marcas explícitas nas vítimas, embora as sequelas emocionais possam ser irreversíveis. “As pessoas se condicionam a aceitar o assédio como um comportamento normal e muitas vezes isso acontece pela falta de conhecimento dos seus direitos”, relatou Patrícia.
O processo do assédio moral sofrido pela autora do livro ainda corre na justiça, em terceira instância. Há sete anos, a trabalhadora tenta provar o crime do qual foi vítima, sem sucesso.
Descrédito e solidão
“Eu não percebi o momento exato que estava sendo assediada. Só depois que comecei a reler o diário que eu vinha fazendo e analisei ponto por ponto tudo o que vinha acontecendo é que me dei conta do assédio. Mas, já era tarde demais. Eu já estava doente”, afirmou Patrícia, que contou sua história com o codinome “Ana”.
Outro problema recorrente para as vítimas de assédio moral é a solidão. A autora do livro relata que chegou a comentar com as amigas sobre a forma “diferente” que era tratada no ambiente laboral, mas que no fundo achava que seria algo passageiro, ou que ela estava imaginando coisas. “O assediador tem esse trunfo em suas mãos: nos faz ficar confusos entre um comportamento aceitável ou não”, afirmou.
Para Patrícia, um dos obstáculos para as vítimas de assédio moral é a falta de crédito que recebem, tanto no próprio ambiente de trabalho quanto na justiça, e por esse motivo, muitos acabam se calando. “Infelizmente, o ambiente de trabalho é muitas vezes favorável ao assediador. É aí que perdemos a credibilidade porque as pessoas dizem sobre o assediador: ‘Essa pessoa é assim mesmo’; ‘Essa pessoa fez isso comigo também. Não ligue para isso!’; ‘É o jeito dele(a)!’; ‘O problema pode estar em você!’”, afirmou.
“O assédio moral teve um efeito devastador na minha vida”
A autora do livro relata que precisou “catar os cacos que sobraram e me refazer novamente”. Apenas na quarta internação psiquiátrica, Patrícia conseguiu, com a ajuda de profissionais e medicamentos, iniciar um processo de reabilitação. A trabalhadora afirma que a família foi fundamental para que ela conseguisse as forças necessárias para encarar o tratamento.
“Tive que trabalhar terapeuticamente a minha dificuldade em relação ao trabalho. Durante as sessões de terapia, eu trabalhava o medo abissal de voltar a trabalhar; o medo de ser taxada novamente como traidora; o medo do isolamento; o medo de me sentir perseguida novamente. Outra coisa que me ajudou demais foi a escrita. Escrever para mim foi uma forma que eu encontrei de externar toda a minha dor, seja num livro, seja num diário, seja numa poesia”, afirmou.
Patrícia considerou ainda que o cenário político atual, de supressão de direitos, também colabora para o aumento de casos de assédio. Apesar disso, ela afirma que é possível sim lutar pela recuperação e que é preciso que as vítimas desse tipo de violação saibam que não estão sozinhas e que por mais que leve tempo, existe uma saída.
O livro “Memórias de uma Depressiva” é inspirado na história da autora, com trechos de diários e anotações sobre o assédio moral, as internações em clínicas psiquiátricas e a sua gradativa reabilitação.
Programação do lançamento
19h - Abertura com o representante da Central Única dos Trabalhadores - CUT e Presidente do Sindicato dos Empregados em Conselhos e Ordens de Fiscalização Profissional e Entidades Coligadas e Afins do Distrito Federal - Sindecof, Douglas de Almeida Cunha
19h20 - Palestra sobre "Estratégias de Prevenção ao Assédio Moral no Trabalho", com Ricardo Franco, coordenador do grupo de estudos da Associação Brasileira de Recursos Humanos - ABRH-DF
19h50 - Palestra sobre "Desencadeamento da depressão no ambiente de trabalho", com a Psicóloga Karina Aguiar
20h20 - Palavra da autora Patricia Lopes dos Santos
20h40 - Momento de autógrafo e coffee break