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A organização sindical no Brasil e a necessidade de tornar a inventar

A CUT-DF estreou coluna no Brasil de Fato. Confira!

Publicado: 03 Setembro, 2021 - 16h11 | Última modificação: 03 Setembro, 2021 - 16h18

Escrito por: Rodrigo Rodrigues

Leandro Gomes
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“O Brasil vive nesse momento a sua maior e mais profunda crise. O índice de desemprego e o aviltamento salarial atingem níveis sem precedentes na história do país e, mais uma vez, procura-se jogar sobre os ombros da classe trabalhadora a responsabilidade pela recuperação de uma crise que não foi gerada pelos trabalhadores, exigindo-se que estes produzam mais, a um custo ainda maior, para encher os bolsos dos banqueiros internacionais, das multinacionais e dos grandes patrões nacionais. Os trabalhadores estão sentindo de forma mais imediata a necessidade de uma mudança.”

O trecho é parte de análise apresentada no 1º Congresso Estadual da Classe Trabalhadora, o 1º Ceclat-DF, há quase 40 anos. Sua atualidade, entretanto, é assustadora, e faz pensar que a mesma ousadia e coragem escancarada em meio à ditadura militar devem emergir também agora, quando a classe trabalhadora vive novamente um cenário totalmente avesso à sua dignidade.

Há quatro décadas, a classe trabalhadora, concentrada prioritariamente em fábricas, começou a se organizar sob a liderança de um torneiro mecânico de média estatura, barbudo, nordestino e que falava a língua do povo, chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Ao mesmo tempo em que as assembleias gigantescas diziam basta ao arrocho salarial e à ruptura com os direitos humanos, trabalhadoras e trabalhadores exigiam o desatrelamento dos sindicatos ao Estado. A ânsia era por uma organização classista autônoma, nascida na base e combativa. E foi assim que foi fundada a CUT, em agosto de 1983.

Hoje, após quase 40 anos de lutas acumuladas, os princípios e valores do sindicalismo classista estão consolidados, mas sua organização sofre ataques sistemáticos e seu modelo está em xeque.

Desde o golpe político-jurídico-midiático contra a presidenta Dilma Rousseff, propostas e projetos obscenos vêm sendo emplacados. Teto de gastos com investimento público, terceirização ilimitada, reforma trabalhista, reforma da Previdência e uma iminente reforma administrativa se somam ao desemprego, ao subemprego, ao trabalho remoto, ao desalento e a uma nova forma de escravidão com o verniz do empreendedorismo, representada pelos trabalhadores em aplicativos. Paralelamente, ainda há o esforço contínuo para realizar um enxugamento radical dos caixas das organizações sindicais.

Tudo isso faz com que o trabalho de base, a organização no local de trabalho, a mobilização e a interação entre trabalhadores – muitas vezes de um mesmo ramo – estejam, no mínimo, gravemente prejudicadas.

O cenário impõe mudanças profundas na estrutura sindical para que se possa responder aos desafios atuais sem abrir mão da liberdade e autonomia, da democracia e da independência em relação ao Estado e aos patrões. É necessário assegurar os direitos sindicais e coibir as práticas antissindicais. É inevitável representar a classe trabalhadora em sua amplitude, de forma agregada e organizada, considerando toda fragmentação e precarização impostas.

É fundamental promover ações amplas, solidárias e unificadas, seja em âmbito local ou nacional.  É preciso reforçar o trabalho de base, se unir a movimentos culturais, sociais; ir às periferias. É urgente viver as ruas. É estratégico investir em formação, em educação sindical e traduzir o sindicalês para quem quer que seja. É vital tornar a inventar.

E nesse processo de (re)organização, a comunicação é ferramenta essencial, seja ela feita no corpo a corpo, no carro de som, nos boletins e jornais impressos ou nas redes sociais. É através dela que instigaremos a mobilização e a organização em defesa de direitos; que faremos com que trabalhadores e trabalhadoras se reconheçam como assalariados; que investiremos no resgate da consciência de classe.

É com a comunicação que chegaremos a um, a cem, a mil, a milhões de pessoas que, muitas vezes, sequer se reconhecem como trabalhadores devido à selvagem precarização das relações de trabalho.

É por isso que apostamos (também) neste espaço oferecido pelo Brasil de Fato, onde a comunicação se faz enquanto direito humano, possibilitando a construção de uma sociedade mais democrática, com pluralidade, diversidade e representatividade. Mostraremos aqui que a trajetória de organização classista de trabalhadores e trabalhadoras, pavimentada na combatividade, traz agora um desejo imenso do novo, que tem a ousadia de reverter o medo em coragem e a opressão em luta.

 

*Rodrigo Rodrigues é professor de História da rede pública de ensino do DF e presidente da CUT-DF