20 de novembro | Data histórica é marcada por manifestação na capital federal
Contra o governo Bolsonaro e em defesa dos direitos da população preta, movimentos se unificaram e realizaram atos em várias cidades brasileiras
Publicado: 22 Novembro, 2021 - 11h52 | Última modificação: 22 Novembro, 2021 - 15h09
Escrito por: Leandro Gomes
Nem mesmo a chuva foi capaz de esfriar os ânimos dos milhares de manifestantes que se reuniram no Museu da República, no último sábado ─ Dia da Consciência Negra ─, para gritar "FORA BOLSONARO RACISTA". Apesar do clima mais fresco na capital federal, o calor esteve presente na fala de cada um que usou o espaço de fala no carro de som para denunciar as práticas racistas do governo Bolsonaro e a ausência de políticas públicas para a população negra no Brasil.
A concentração para o ato começou por volta das 14h30. Faixas e cartazes com dizeres diversos foram confeccionados no local. Toda a organização da atividade, bem como a condução das falas e das apresentações culturais, teve como protagonistas pessoas pretas, que, muitas vezes, têm suas vozes silenciadas.
Quem passou pelo local, enxergou, além de militantes aguerridos na luta, muita diversidade. E, de fato, a atividade foi bastante plural, pois conseguiu unificar a luta antirracista, indígena e as pautas urgentes da classe trabalhadora, como geração de emprego com direitos, pelo fim da fome e da miséria e contra a política econômica implementada pelo governo Bolsonaro.
A secretária-geral nacional da CUT, Carmem Foro, esteve presente no ato em Brasília e ressaltou que "ainda é muito desconfortável, no dia 20 de novembro, a gente pedir consciência negra". "O Brasil deveria ter consciência do quanto a população negra construiu a riqueza do nosso país e contribuiu para a cultura. Mas, infelizmente, estamos muito pertinho do que foi há 3050 anos. Nós vivemos nos piores lugares e ocupamos os piores postos de trabalho e o desemprego em massa atinge com mais intensidade a população negra. E, se tratando das mulheres negras, esse é um patamar ainda pior. São os nossos filhos morrendo na periferia. É um país que não corresponde aos construtores da sua riqueza", lembrou a sindicalista.
Já o presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, destacou como a população negra é sempre a mais atingida pelo desemprego e pelas políticas de retirada de direitos. Para se ter ideia do impacto, sete em cada 10 desempregados no DF são negros. O levantamento é de uma pesquisa realizada pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), que analisou o primeiro semestre de 2021.
Como se não bastasse a desigualdade na hora de conseguir um emprego, o contraste é notado também quando se observa a remuneração, como aponta o estudo. O salário médio das pessoas pretas na capital é de R$ 2.857, enquanto o das pessoas não pretas é R$ 5.041.
"Por isso, dia 20 de novembro é uma data tão importante para que a gente discuta consciência negra, o combate ao racismo, a discriminação no mundo do trabalho, mas que a gente discuta também a necessidade de mais direitos, mais educação, mais serviços públicos para toda a população, especialmente nas periferias, que precisam ser fortalecidas com esses serviços”, afirmou Rodrigues.
O genocídio da juventude negra também foi abordado nas falas. O militante do Movimento Negro Unificado (MNU), Geovanny Silva, lembrou dos elevados índices de assassinato das jovens pretas e jovens pretos, que acontecem principalmente nas periferias.
“Atos como esse de hoje são fundamentais para a sociedade brasileira, que teve uma abolição inacabada. O Brasil não assegurou cidadania plena ao povo negro até hoje. O racismo, o genocídio da juventude negra, os ataques às religiões de matrizes africanas, são demonstrações de que precisamos sim estar nas ruas”, afirmou Geovanny.
O ato foi encerrado por volta das 18h, com os manifestantes ainda muito animados. Quem saiu da mobilização, levou consigo a consciência de que a luta antirracista deve ser de todas e de todos. Ficou claro também que o avanço na conquista de direitos e na construção de uma sociedade mais justa, igualitária e com consciência racial, passa, antes de tudo, pelo fim do governo Bolsonaro.
Além de Brasília, pelo menos outras 100 cidades brasileiras e 10 estrangeiras registraram atos com o mote: “Fora Bolsonaro racista” no último sábado (20).