História da CUT-DF
A fundação da CUT
Ausência de democracia, supressão dos direitos constitucionais, perseguição política, repressão, censura e tortura. Esse é o cenário dos 21 anos da ditadura militar no Brasil, de 1964 a 1985
Nesse cenário de profundas transformações políticas, econômicas e culturais, protagonizadas essencialmente pelos movimentos sociais, surge o “novo sindicalismo”, a partir da retomada do processo de mobilização da classe trabalhadora. Essas lutas, lideradas pelas direções sindicais contrárias ao sindicalismo oficial corporativo, deram origem à Central Única dos Trabalhadores – CUT.
O nascimento da CUT como organização sindical brasileira representa mais do que um instrumento de luta e de representação real da classe trabalhadora, um desafio de dar um caráter permanente à presença organizada de trabalhadores e trabalhadoras na política nacional.
À época, as principais reivindicações das trabalhadoras e trabalhadores eram:
– Pelo fim da política econômica do governo;
– Por liberdade e autonomia sindical;
– Pelo salário-desemprego;
– Pela estabilidade no emprego;
– Pela reforma agrária sob o controle dos trabalhadores;
– Por eleições livres e diretas, já;
– Pelo fim do regime militar.
Acesse aqui as Resoluções da Conferência Nacionala da Classe Trabalhadora, realizada nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 1981, na Colônia de Férias dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, em Praia Grande - SP.
Acesse aqui as Resoluções do 1º Congresso Nacional da Classe Trabalhadora - 1º Conclat, realizado nos dias 26, 27 e 28 de agosto de 1093, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo - SP.
Para boa parte dos jovens que vivem em 2023 no Distrito Federal e no Entorno, com liberdade de se manifestar, redes sociais que multiplicam todos os tipos de informações em tempo real, eleições democráticas com a retomada do governo democrático e popular, é difícil imaginar a conjuntura da época da fundação da CUT, que faz 40 anos em agosto deste ano.
Os anos de Temer e Bolsonaro, governos frutos do golpe contra a presidenta Dilma, deram uma pequena ideia do que significa para a classe trabalhadora viver sem democracia, mas a realidade de 1983 era de ditadura militar e profunda opressão a trabalhadoras e trabalhadores.
“O Brasil vive nesse momento a sua maior e mais profunda crise. O índice de desemprego e o aviltamento salarial atingem níveis sem precedentes na história do país e, mais uma vez, procura-se jogar sobre os ombros da classe trabalhadora a responsabilidade pela recuperação de uma crise que não foi gerada pelos trabalhadores, exigindo-se que estes produzam mais, a um custo ainda maior, para encher os bolsos dos banqueiros internacionais, das multinacionais e dos grandes patrões nacionais. Os trabalhadores estão sentindo de forma mais imediata à necessidade de uma mudança.”
Esse é um trecho da análise de conjuntura nacional apresentada no 1º Congresso Estadual da Classe Trabalhadora – 1º Ceclat-DF. Após anos de ditadura militar, diversos setores sociais passaram a expressar publicamente sua indignação e a exigir cidadania em todas as dimensões. No campo sindical, ocorreram diversas greves e mobilizações, combinando lutas por salário, por direitos de organização e expressão e, acima de tudo, pela democratização do país.
Um após a fundação da CUT Brasil, nos dias 7 e 8 de julho de 1983 é realizado o 1º Congresso Estadual da Classe Trabalhadora no Distrito Federal na Escola Santa Dorotéia, localizada na SGAN 911, na Asa Norte, e ali a CUT-DF começava sua trajetória. Com dezenas de sindicalistas, o 1º Ceclat-DF fundou a Central no DF.
Para o 1º Ceclat-DF foram inscritos 146 delegados, dos quais 121 participaram efetivamente, oito observadores e 52 convidados.
Os delegados representavam 15 sindicatos: Jornalistas, Arquitetos, Vigilantes, Domésticas, Nutricionistas, Economistas, Engenheiros, Assistentes Sociais, Gráficos, Médicos, Enfermeiros, Orientadores e Formadores Profissionais, Auxiliares de Administração Escolar, Professores e Servidores Públicos.
Os observadores e convidados pertenciam às seguintes categorias: Bancários, Sociólogos, Psicólogos, Motoristas, Aposentados e Construção Civil.
Nos dois dias de Congresso foram discutidos: conjuntura política nacional; situação do movimento sindical nacional e local; estruturação da CUT-DF.
O documento que assinala a fundação da CUT-DF diz o seguinte:
“Para nós, a criação da CUT-DF significa um passo concreto no processo de consolidação da nossa Central Única e deve significar também a união de um maior número de companheiros na luta intransigente pela defesa de nossas reivindicações e no combate ao desatrela mento dos nossos sindicatos. Assim estaremos construindo nossa organização de base, democrática e de luta”.
Em outro trecho mais adiante:
“Concretizou-se mais uma vitória na luta pela construção da Central Única dos Trabalhadores, pela base, a nível nacional, com a fundação da CUT-DF no 1º Congresso Estadual da Classe Trabalhadora do DF – 1º Ceclat -, realizado nos dias 7 e 8 de julho de 1984”.
Confira a 1ª Direção Estadual
Francisco Domingos (Chico Vigilante) – presidente da Associação Profissional dos Vigilantes
Maria Laura Sales Pinheiro – base dos Servidores Públicos
Neuza Maria Rodrigues – base dos Professores
Francisco Chagas Machado Filho – presidente da Associação Profissional dos Economistas do DF
Paulo Henrique Veiga – diretor do Sindicato dos Arquitetos do DF
Jacques de Oliveira Pena – diretor do Sindicato dos Bancários do DF
Romualdo Silveira Filho – tesoureiro do Sindicato dos Médicos
Antônio Geraldo Sobrinho – diretor do Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar
Djalmir Augusto de Assis – presidente do Sindicato dos Gráficos
Antônio Cezar Almeida – diretor do Sindicato dos Engenheiros
Adelino Cassis – presidente da Associação dos Aposentados do DF
Francisco Pereira – Radialista
Executiva Estadual
Presidente – Francisco Domingos (Chico Vigilante)
Secretário-Geral – Jacques Pena
Tesoureiro – Romualdo Silveira Filho
Secretária de Organização – Maria Laura Sales Pinheiro
Secretário de Relações Públicas – Francisco Chagas Machado Filho
Secretário de Formação Sindical e Política – Djalmir Augusto de Assis
Conselho Fiscal
Antônio de Pádua Maia – diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília
Heliane Morais Nascimento – base dos Servidores Públicos
Pedro Paulo Vila Nova – diretor da Associação Profissional dos Vigilantes
Miriam Vaz Parente – diretora da Associação Profissional dos Economistas
José Eudes Oliveira Costa – base da Administração Escolar
A CUT somos todos nós!
Na resolução aprovada sobre a estruturação da CUT-DF, apresentada no 1º Ceclat, há um trecho que demonstra o acerto inequívoco de criar a Central no DF para avançar nas lutas, impulsionando a organização dos trabalhadores. Confira:
“A construção da CUT responde à necessidade de organizar os trabalhadores em suas lutas concretas por melhores salários, por melhores transportes, por condições dignas de habitação, por liberdade e autonomia sindicais”.
Ao longo de um ano, ela vem se implantando com dificuldades, com insuficiências. Ao longo de um ano também vem sendo combatida. Mesmo assim prossegue em sua implantação.
Ao discutirmos sua implantação no Distrito Federal, podemos ver mais claramente toda a situação concreta que envolve a construção da CUT. Combatida por uns, incompreendida por outros, entretanto vista por todos nós como necessária. Poderemos não ter hoje, neste Ceclat, o conjunto das categorias do DF. Mas podemos afirmar que temos um bom começo. Se todos nós que compreendemos a necessidade e a importância da CUT nos empenharmos efetivamente em sua implantação em nossas categorias, teremos a cada ano Congressos mais fortes e mais representativos. Este deverá ser apenas o começo. Com base em nossa decisão, no plano de lutas e na realidade objetiva dos trabalhadores poderemos avançar e neste processo prático de lutas, impulsionando a organização dos trabalhadores, fortaleceremos a CUT, a construiremos efetivamente.
Os membros da Direção Nacional da CUT-DF defendem, portanto, a criação da CUT-DF neste Ceclat, acreditando ser esta a melhor forma de viabilizar e implantar a Central Única dos Trabalhadores na capital federal.
VIVA A CUT!
A CUT SOMOS TODOS NÓS!
Brasília, 7 de julho de 1984”
Somos Fortes, Somos CUT!
Em sua atuação sindical, a Central sempre defendeu a liberdade de organização e de expressão, e se orientou por preceitos de solidariedade. A luta pela universalização dos direitos foi reafirmada ao longo do tempo com a participação ativa da CUT na construção de políticas públicas e afirmativas de vários setores e segmentos da sociedade.
Por isso, a CUT-DF, assim como a CUT Nacional, foi desde o início a maior Central Sindical do Distrito Federal. Fortalecendo-se e crescendo dia a dia, representa mais de 80% dos trabalhadores urbanos e rurais, dos setores públicos e privados, sendo constituída atualmente por aproximadamente 100 entidades sindicais do Distrito Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno (Ride).
Durante todos esses 40 anos de lutas e conquistas para a classe trabalhadora, a CUT-DF sempre figurou como protagonista nos episódios que marcaram a história do Brasil, como a Campanha pelas Eleições Diretas Já!; a luta pela participação dos trabalhadores na Assembleia Nacional Constituinte de 1988; o impeachment de Fernando Collor de Mello; a luta contra o modelo neoliberal; contra as privatizações e o desmonte do Estado; a campanha vitoriosa que elegeu pela primeira vez um operário como presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil, Dilma Roussef, em sucessão a Lula; a luta contra o golpe institucional de 2016; a resistência aos governos Temer e Bolsonaro; a luta em defesa da inocência e liberdade de Lula; e, agora, a retomada do governo democrático e popular. Tudo isso entre tantos outros importantes capítulos da história recente do Brasil.
A Central Única dos Trabalhadores comemora, assim, importantes vitórias em suas reivindicações históricas; ao mesmo tempo em que novos desafios surgem na sua pauta, como a luta pela unidade da classe trabalhadora, a construção de um modelo de desenvolvimento sustentável centrada no trabalho, a ampliação de políticas públicas com maior controle social sobre o Estado e, agora mais recentemente, a garantia de direitos trabalhistas para trabalhadoras e trabalhadores, independentemente do modelo de contratação, mais diretamente impactados pela 4ª Revolução Industrial.
As quatro décadas de história, de resistência, de lutas e conquistas do movimento sindical do Distrito Federal é motivo de orgulho para todas as pessoas ajudaram a construir a democracia e a liberdade no país.
Muito além disso, a comemoração dos 40 anos da CUT pretende incentivar jovens trabalhadoras e trabalhadores a lutar para manter os direitos históricos conquistados ao longo de nossa história, recuperar os direitos retirados pelos governos Temer e Bolsonaro e, principalmente, ampliar a organização e a mobilização da classe trabalhadora por mais conquistas.
Somos fortes, somos CUT!
Presidentes da CUT-DF
Chico Vigilante (1984 – 1990)
Elzira Maria do Espírito Santo (1990 – 1991)
Jacy Afonso de Melo (1991 – 1994)
José Zunga Alves da Silva (1995 – 2000)
Erika Kokay (2000 – 2002)
João Torquato dos Santos (2002 – 2003)
João Osório da Silva (2003 – 2006)
Rejane Pitanga (2006 – 2010)
José Eudes Oliveira Costa (2010 – 2012)
Rodrigo Britto (2012-2019)
Rodrigo Rodrigues (atual presidente)
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