Racismo no Brasil | Marcas do passado que se prolongam no presente
Publicado: 18 Dezembro, 2019 - 15h16
Por Samantha Sousa*
O racismo estrutural impregnado em nossa sociedade traz consequências imensuráveis para a vida da população negra todos os dias. Seja nas ruas, nas redes sociais, no ambiente de trabalho, ou até mesmo nas instituições públicas − onde essa prática deveria ser veemente combatida − lidamos com esse tipo de preconceito.
Historicamente, a abolição da escravatura chegou ao fim no Brasil em 1888. Seria um fim de uma era de exploração e inferioridade de um povo se não fossem as marcas que esse período deixou na vida das pessoas negras. Desigualdade social, desemprego − e, quando empregados, subempregos −, silenciamento de vozes são alguns dos exemplos.
No último período, o que antes era algo sutil e velado ganhou força e está cada vez mais escancarado. E, com a eleição do presidente Jair Bolsonaro, a execrável prática saiu das ruas e foi institucionalizada. Basta ver os comentários do jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, nomeado por Bolsonaro para a presidência da Fundação Palmares, uma instituição pública que tem como objetivo promover e preservar valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
Camargo fez afirmações como “não existe racismo no Brasil” e “a escravidão foi benéfica para os negros”. Chegou a afirmar, inclusive, que o movimento negro precisa ser extinto. Mas graças à pressão dos movimentos negros, a Justiça suspendeu a nomeação de Camargo.
Para além de renegar e silenciar as vozes negras, o racismo institucional ceifa vidas diariamente. Recentemente, a Polícia Militar de São Paulo invadiu um baile funk em Paraisópolis − 2ª maior favela de SP − e, em uma ação arbitrária, deixou medo, dor e sofrimento para quem sobreviveu ao ataque. Os agentes de segurança pública sequer se importaram com as vidas inocentes que estavam no local apenas para se divertir. Entraram, causaram tumulto, fecharam as saídas e o resultado foi nove jovens mortos e dezenas de pisoteados. A maioria negra.
Tomando como base os comentários na internet, grande parte dos internautas considera justa a ação da PM pelo simples fato de os jovens estarem em um baile funk na favela. Para eles, funk e favela são bandidagem.
Na TV, a discriminação racial também é bastante comum. Não se vê negros em papéis de grande relevância, mesmo com grandes intérpretes negros. São, em sua grande maioria, destinados a papéis menores e subalternos. Já nos programas de entretenimento, alguns apresentadores escancaram sua aversão ao negro. É o caso do apresentador Silvo Santos, que não tem papas na língua quando o assunto é falar disparates.
Já conhecido por seus comentários preconceituosos, sejam de cunho racista, machista ou homofóbico, no último caso protagonizado pelo apresentador, Silvo Santos se negou a entregar o prêmio para a cantora Jennyfer Oliver e passou para outra competidora que, segundo ele, era “muito bonita”. Jennyfer, a única negra entre as quatro competidoras, foi escolhida pela plateia como melhor intérprete da canção “caneta azul”. Ela recebeu 84 votos, contra 18 das demais concorrentes.
No mercado de trabalho também não é muito diferente. Os negros são obrigados a ocupar os postos de trabalhos mais subalternos, precários e, muitas vezes, sem direitos trabalhistas. Nota-se que grande parte dos empregadores ainda tem resistência em contratar negros para funções mais complexas e, quando o fazem, os salários inferiores aos da população branca. São eles que encabeçam as filas do desemprego.
Nós, da CUT, repudiamos toda e qualquer prática de ódio, discriminação e intolerância. Lutamos pela construção de um país mais justo e igualitário, e para que a dignidade humana seja respeitada. Por isso, nos reuniremos com outros movimentos que defendem a pauta no dia 28 de janeiro, às 10h, na sede da CUT Brasília. A ideia é que tracemos estratégias de enfrentamento para o próximo período.
É necessário que se crie leis e mecanismos para fortalecer o combate às várias formas de discriminação racial, mas que, sobretudo, sejam criadas e/ou fortalecidas políticas públicas que tirem a população negra da inferioridade, dando o suporte necessário para que tenha condições dignas de viver.
Não ao preconceito!
Não ao racismo!
*Samantha Sousa é bancária e secretária de Combate ao racismo da CUT Brasília